Terras áridas, milhares de peixes mortos e grandes cursos de rios e lagos transformados em córregos. Esta não é a imagem do Nordeste brasileiro, já castigado há tantos anos pela seca, mas é o retrato da Amazônia que enfrenta sua maior estiagem em 60 anos. De outro lado, a indústria automobilística encerrou os oito primeiros meses de 2005 com uma produção de 1,628 milhão de veículos. A expectativa é que, até o final deste ano, ultrapasse a marca das 2,4 milhões de unidades. Ou seja, um aumento de quase 10% em relação ao ano de 2004.
Você deve estar imaginando o que a situação da Amazônia tem a ver com a questão da indústria automobilística? Eu diria que diretamente nada, mas indiretamente tudo. Afinal, a crise amazônica é só um reflexo do que teremos que enfrentar devido à ação predatória do homem, ao crescimento industrial desenfreado e à emissão de poluentes ao meio ambiente.
Talvez tal colocação pareça uma apologia para que se pare a roda do desenvolvimento industrial. Muito pelo contrário, meu maior desejo é que a indústria produza cada vez mais, impulsionando a economia, proporcionando um aumento no número de postos de trabalho e retornando para ela na forma do crescimento de suas vendas. Mas tudo com um olhar um pouco mais amplo, descentralizado apenas da questão econômica, para visualizar que ela só será sólida se vier acompanhada de uma preocupação ambiental, inclusão social e respeito à cidadania. Senão, ela escoa pelos nossos dedos e não se mantém. Não a longo prazo.
A busca por energias mais limpas é um dos caminhos essenciais para a manutenção do planeta. O aquecimento global, por mais que busquemos explicações que isentem nossas culpas, é um dos responsáveis pelo desequilíbrio do clima mundial, e a situação só poderá ser amenizada com planejamento e desenvolvimento sustentável. Não estou sendo fatalista, mas a realidade é essa. Segundo um estudo do Banco Mundial (Bird) sobre os efeitos da deterioração do meio ambiente, divulgado este mês, a poluição do ar mata 800 mil pessoas anualmente. O documento afirma, ainda, que cerca de 20% das doenças nos países em desenvolvimento podem ser atribuídas a problemas ambientais, como falta de água potável e poluição do ar, e que os problemas ecológicos atingem sobretudo os mais pobres e as crianças.
Porém, as empresas e seus dirigentes já percebem essa realidade e buscam, por meio de ações socialmente responsáveis, fazer o seu negócio prosperar. Isso pode ser visto claramente pela VI Pesquisa nacional de Responsabilidade Social divulgada pelo IRES (Instituto ADVB de Responsabilidade Social) em setembro. Nesta edição do estudo, do total de empresas que responderam ao questionário, em 89% delas a Responsabilidade Social faz parte da visão estratégica nas suas decisões e planejamento de gestão. E o Meio Ambiente é a segunda principal área de investimento das organizações, perdendo apenas para a Educação.
Ainda segundo a VI Pesquisa, apesar de poucas corporações – apenas 15% – realizarem um levantamento junto ao consumidor para saber se ele entende como diferencial a organização atuar em programas de Responsabilidade Social, 62% das mesmas avaliam o retorno de seus projetos acima dos resultados esperados.
É aí que entra a força do consumidor consciente. Ele passa a fazer suas escolhas baseadas no seu bem-estar e na postura ética que a empresa tem. Esse público quer agir, cobrar, mas sente que as informações sobre as ações socialmente responsáveis dessas empresas são pouco divulgadas. A organização que perceber a força que isso pode promover ao seu negócio, se destacará no mercado. O lucro, que todos buscam e é salutar sim, precisa vir acompanhado de “algo mais”, que nada mais é do que ser diferente, inovador, um destaque. Então, que usemos nossas estratégias de comunicação e marketing para divulgar as boas ações. Sairá na frente quem fizer mais e melhor.
José Zetune é presidente da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), da ADVP (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Portugal), do IRES (Instituto ADVB de Responsabilidade Social) e da FBM (Fundação Brasileira de Marketing). E-mail: presidê[email protected]