Os cinco sentidos do luxo



Já está consolidado o conceito de que as experências do ser humano e a maneira de como elas se incorporam ao “ser cultural” são imprescindíveis para o planejamento da oferta de produtos e serviços.

 

Isso não representa novidades no plano da percepção profissional, mas, se saímos do terreno antes exclusivo aos gestores/detentores do puro conhecimento do mercado do luxo, para entrarmos num cenário onde imperam a multiplicidade dos canais e  explodem as vias de interação. Neste cenário o mercado do luxo passa a democratizar um novo olhar nos modelos de gestão. Um olhar atento e incisivo, num momento marcante da história do consumo, porque implode e extirpa arraigadíssimos paradigmas de antiga ordem da estratificação social.

 

Isso tudo requer uma abordagem inovadora no gerenciamento da “oferta genuína de  identidade” dos produtos e serviços em seus vários planos: no pessoal – quem sou eu e o que quero transmitir; no profissional – qual será minha contribuição; no empresarial – o que ofereço ao outro; no institucional – quem eu represento agora; no sociológico – em nome de que eu atuo. Está em processo a plena revolução do pensamento com-par-ti-lhado.  Second Life, Youtube, My Space, Orkut, World of Starcraft … são testemunhos disso.

 

Pablo, meu filho de 19 anos, estudante de Psicologia, chamou minha atenção para alguns dos ritos de passagem que são observáveis em todos os grupos em diversas sociedades, em todos os momentos da história. Na minha geração, por exemplo, o enfrentamento com os conflitos da adolescência era uma luta solitária, intransferível, partilhável, quando muito, entre amigos íntimos e confiáveis. Já na geração de Pablo, que aprendeu a escrever num computador, são milhares os meninos e meninas que alardeiam, dividem, se consagram e  comungam experiências normais nessa fase de suas vidas. É público, é geral, é coletivo e, portanto, é social. Eles encenam suas personagens requintando o conhecimento e enriquecendo a consciência num  processo coletivo de partilha, e acessam interativamente os testemunhais sobre o conflito.

 

Ora, esta é a geração que está acostumada a perceber, num relance, se os produtos ou serviços alardeados e mostrados nos pontos-de-venda têm autenticidade na proposta de valor. Não serão muito mais aceitos aqueles produtos ou serviços que não trouxerem uma taxa de desejo em sua proposta.

 

Esse inovador patamar de atividade econômica exige olhar questionador, tornando-se pauta de negócios e ferramenta-referência de gestão.

 

De pequeninas peças de porcelana a grandes redes de hotelaria, passando por vestuário, calçados e acessórios, bebidas, automóveis e outros itens de desejo, nosso País tem hoje até em instituições financeiras de cunho mais social e popular – como o Banco do Brasil e o Bradesco, por exemplo – produtos dirigidos ao cliente Premium.

 

Produtos antes comuns, como cervejas e água mineral, carregam essa linguagem de diferenciação em seus rótulos, vestindo-os com um certo toque de especiaria nas prateleiras, para este consumidor exponencialmente mais exigente e antenado num mundo cada vez mais congestionado de ofertas de experiências.

 

Quem está mais preparado para a decisão de compra? Minha geração, sofrida,  sem tanta facilidade nos acessos ao conhecimento, ou essa galera que, em grupos variando entre  20, 30 ou até mesmo 40 mil outros membros da comunidade, ou da tribo, dedica-se abertamente ao compartilhamento. O que é que você, da minha geração, tem a dizer?

 

João Batista Ferreira é diretor executivo da Alshop e CEO da J2Marketing. E-mail: [email protected]

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