Em termos acadêmicos, a economia estuda como as pessoas, empresas e governos fazem escolhas e como essas escolhas determinam de que forma a sociedade utiliza seus recursos. Dentro desta análise, as pessoas respondem a incentivos e isso representa o principal fator de resposta às questões polêmicas nos diversos assuntos tratados no livro.
Algumas perguntas são superficiais, quase esdrúxulas. Outras abordam temas cotidianos da sociedade moderna, como criminalidade, aborto, corrupção, fraude e educação. Daí surgiu o novo campo de estudo muito bem explorado pelos autores Steven Levitt & Stephen Dubner: Freakonomics.
A idéia do livro surgiu em meados de 2003, quando o escritor e jornalista Stephen J. Dubner foi escalado para escrever um artigo na The New York Times Magazine. O assunto era o jovem e badalado economista Steven D. Levitt, que acabara de receber um prêmio para economistas com menos de 40 anos.
A postura atípica de Levitt foi retratada no artigo de Dubner e despertou enorme interesse em milhares de leitores da revista. Isso resultou em pressão sobre o economista para transformar tal artigo em livro, viabilizado pela parceria entre os autores.
Correlação é um termo estatístico que indica se duas variáveis caminham juntas. Neste caso, é difícil provar a relação correta da casualidade deste encontro, dada a forte correlação entre os autores. Tão brilhante quanto aparentemente improvável.
A introdução do livro já vale a leitura, com uma visão geral sobre os diversos assuntos que serão detalhados nos seis capítulos seguintes. Segundo os autores, enquanto a moralidade representa um mundo ideal, a economia retrata o mundo real. E por aí vai a discussão.
De início, a relação entre a aprovação da lei do aborto nos EUA no início dos anos 70 e a redução drástica da criminalidade nos anos subseqüentes parece incontestável. Este é provavelmente o mais polêmico de todos os estudos conduzidos por Levitt. A despeito de temas morais e opiniões, o economista não faz apologia ao aborto ou demonstra preconceito com pobres e negros. Trata-se apenas de uma constatação estatística, mas que originou pesadas críticas, de conservadores e liberais.
As fraudes são comprovadas nas mais diversas relações da sociedade atual. É incrível como um algoritmo bem elaborado pode desmascarar lutadores de sumô e professores desonestos. Os incentivos da vida moderna explicam desde a ascenção e queda da Ku Klux Klan até a falta de comprometimento de corretores com imóveis alheios.
Os temas relacionados à educação também geram muitas discussões. A hierarquia das gangs metropolitanas e a distribuição ineficaz de renda entre criminosos e empregados são exemplos claros. E a importância relativa de um bom pai na formação do caráter das crianças transcende a simples escolha de um nome adequado para os filhos. Assim como não faltam polêmicas para pontos de vista tão difíceis, sobram dados estatísticos para repensar a sabedoria convencional. Causas distantes e até mesmo sutis podem provocar efeitos drásticos.
Questionar o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. Essa é a proposta de Freakonomics e esse é o resultado que o leitor pode esperar. Uma nova maneira de encarar um mundo confuso, complicado e enganoso. Aprendendo a formular as perguntas certas, a vida não parece indecifrável ou impenetrável. O mundo sob essa nova visão se tornará um campo muito interessante a ser explorado. Lembre-se: a sabedoria convencional em geral está equivocada. Afinal, ninguém jamais comprovou que beber oito copos de água por dia faz bem à saúde… Você sabia?
Marco Barcellos é diretor de Marketing da Cisco do Brasil.