Tudo é muito virtual. Mas, e os resultados!



O relacionamento virtual encontrou forte receptividade no Brasil. O primeiro grande exemplo é o enorme número de usuários brasileiros do Orkut, o maior da rede mundial. Como ele, o poder do conceito. O efeito chega inclusive a ser eficiente quando a questão é business. Com a criação de empreendimentos com foco no público alvo, visando construir nichos de usuários que interagem e geram conhecimento, ela permite estimular, desenvolver e facilitar negócios com transações comerciais efetivas.  Na esteira do Orkut, o game de realidade virtual Second Life ganhou quantidade maciça de adeptos brasileiros, motivando a criação da versão nacional (www.secondlifebrasil.com.br), que fez sua estréia comercial no final de abril deste ano. O jogo é um simulador de vida real, num mundo virtual em 3D, permitindo interação entre os participantes do mundo inteiro, em tempo real. Nele, é possível criar seu avatar, hábitos e negócios.

 

Com o Second Life Brasil, o internauta tem uma porta de entrada brasileira, em português, e um meio de pagamento virtual local, uma vez que os brasileiros tinham apenas a opção do cartão de crédito internacional. Um ano atrás, a Linden Labs tinha objetivo de expandir seu game apenas para o mercado europeu e asiático. Diante do potencial no mercado brasileiro de 200 mil participantes – ou 5% do total de usuários -, reviu sua estratégia. Para viabilizar a operação, a Kaizen Games (braço da Kaizen Inc.) acabou tornando-se a primeira signatária do programa Second Life Global Provider, formatando a ferramenta e detendo os direitos em português e espanhol, em parceria com o provedor iG.

 

Realidade tropicalizada – Emiliano de Castro, diretor de marketing do Second Life Brasil, afirma que as empresas podem desenvolver uma série de ações no game, tanto de branding quanto de comércio eletrônico, mas que o mais interessante é a exploração da plataforma do ponto de vista do usuário, fazendo-o interagir com o negócio. É possível, por exemplo, fazer pesquisa sobre produtos e serviços e testá-los como se fosse no mundo real e encontrar maneiras de entrelaçar os dois “mundos”. Ou ainda uma loja de roupas pode oferecer um brinde aos clientes usuários do Second Life ou obter online um desconto para a compra offline. Espaços publicitários, como outdoors, quiosques e guarda-sóis, assim como pacotes de patrocínio também estão sendo comercializados. O período de contrato é de um ano e os valores variam de R$ 30 mil a R$ 100 mil por um mês durantes os seis primeiros meses. Num primeiro momento, mais de 20 empresas reservaram terreno no game para gerar uma experiência virtual da marca, como TAM e Intel.

 

A TAM foi a primeira companhia aérea do mundo a ingressar no Second Life, mundial e Brasil, instalando-se na Ilha Berrini (Brasil), onde os visitantes podem partir para os demais estandes da TAM no mundo virtual, localizados nas ilhas Milão, Paris, Inglaterra e Nova York. Nesses espaços, os participantes são recebidos por um comandante e uma comissária de bordo. Já a Intel celebrou seus 20 anos no Brasil com festa no game mundial na qual os convidados foram recebidos por avatares de celebridades e outros personalizados como executivos da empresa, inclusive Oscar Clarke, presidente da Intel do Brasil. Os participantes receberam freebies, espécie de brindes virtuais que conferem poderes especiais aos avatares com logomarca dos processadores Intel Core 2 Duo, provocando contato com a marca. Para Castro, o Second Life vem ao encontro das expectativas das empresas anunciantes que estão procurando fugir do convencional e adotar experiências mais sofisticadas, surpreendentes e inovadoras para atingir o consumidor.

 

Colaboração e conhecimento – Com a quebra da barreira entre leitor e editor, consumidor e produtor, a internet virou palco de oportunidades de relacionamento direto e interativo. Na plataforma de ambiente de serviços Peabirus (www.peabirus.com), há a integração de setores da economia com interesses comuns e também de áreas diferentes. Criada pela Radium Systems, a Peabirus é uma rede compartilhada de negócios, colaboração e conhecimento, que possui ferramentas capazes de permitir a publicação e interação, gerando a possibilidade de intercâmbio. Os membros da comunidade ainda podem ter visibilidades profissional e institucional, aumentando sua exposição diante dos diversos públicos participantes. A designação Peabirus remete ao conjunto de caminhos que os índios tinham domínio e, numa transposição para a web, denota as novas fronteiras criadas pela internet, que gera arquiteturas para movimentos sócio-econômicos, impulsando relacionamentos e negócios.

 

De acordo com Rodrigo Lara Mesquita, sócio-diretor da Radium Systems, a Peabirus propicia publicação fácil e sem custos até mesmo para quem não possui muitos conhecimentos sobre internet ou não tem um site robusto. O código fornecido pela Peabirus permite espelhar a comunidade no site do próprio participante, oferecendo uma ferramenta sem custos para relacionar-se com os públicos de interesse e, ao mesmo tempo, levá-los ao ambiente de serviços da rede.

 

A Peabirus funciona desde setembro de 2006 como uma espécie de feira de negócios contínua e já reúne pólos industriais como o dos setores calçadista infantil e alimentício, a Cadeia Produtiva do Café do Brasil, projeto de Desenvolvimento de Minas Gerais e rede de incumbadoras e escritórios regionais da Fiesp. A Peabirus já conta com 14 redes voltadas às pequenas empresas e ao agronegócio, nicho carente de suporte desse tipo. Cada uma é organizada em torno de um tema, incluindo tanto stands de negócios quanto de conhecimentos, como o de universidades. A rede do café, por exemplo, conta com o Conselho Nacional do Café, Embrapa Café (que abriga 50 instituições de pesquisa sobre o tema), Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e Associação Brasileira da Indústria do Café (Abinc). Sob um tema, há mais de 1 mil comunidades de colaboração que formam sub-redes, englobando aspectos de produção, pesquisa, indústria e comércio.

 

Todas essas comunidades relacionam-se em cadeia. Assim, problemas comuns ao setor podem obter soluções em escala (logística ou financeira), de forma compartilhada e com custos adequados para exportação, por exemplo. A expertise importadora dessa rede pode servir de base e troca de experiências para a do segmento de pinga ou outro qualquer que tenha as mesmas necessidades e aspirações. Já para as empresas do pólo tecnológico de Birigüi (SP), a Peabirus atua como mediadora e parceira em potencial para bancos, corretoras financeiras e outras instituições que possam oferecer instrumentos financeiros para esses clientes, eliminando custos com a visita de vários vendedores ou representantes. Mesquita estima que 5 mil empresas já façam parte da Peabirus, que somada à colaboração agregada de Minas Gerais, à rede Anel de São Paulo e mais algumas a ser abertas no Rio, Brasília e Porto Alegre, deve chegar a 100 mil usuários no início de 2007.

 

Dentro da arquitetura viral da Peabirus, o participante pode ser convidado ou pedir para ingressar numa comunidade. Buscando construir conhecimento e concretizar negócios, a plataforma conta com parceiros, como o Web Aulas, que permite baratear o custo de reuniões por meio de coletivas em vídeo, além do Mercado Eletrônico, para e-commerce, e do Ig Empresas, para hospedagem web e criação de sites. “Nosso ambiente é um Orkut de negócio, com modelo e governança definidos”, explica Mesquita. A rede Peabirus é remunerada por meio dos provedores de serviços e patrocínios, assim como a intermediação de negócios com base em critérios próprios, incluindo as redes geradoras. “Desenvolvemos um método em que cada mediador de comunidade das redes atuantes consegue acompanhar, em área privativa da plataforma, os serviços utilizados pelos membros da comunidade para interação e as compras e vendas realizadas”, relata Mesquita.  Ele define a função da Peabirus como a de sistema de classificados dos tempos das redes virtuais. “Se antes os classificados impressos de um jornal eram suficientes para movimentar uma rede de negócios, no mundo das redes, a interação é contínua e online”, justifica.

 

Interação entre profissionais – Entre as redes que atuam em setores específicos está o Clube de Benefícios Dentalis (http://www.dentalis.com.br/clube2.asp), que promove a integração dos dentistas não só no agendamento e marcação de consultas, como também a viabilidade administrativo-financeira dos consultórios, uma das principais deficiências desses profissionais.

 

“Percebemos que os dentistas trabalham de forma solitária em seus consultórios e tinham dificuldade em trocar conhecimentos”, explica Sérgio Aronis, diretor comercial da Dentalis. Ele afirma que sua empresa existe há 15 anos desenvolvendo softwares para clínicas e convênios odontológicos, tendo mais de 17 mil clientes, e percebeu aí um novo nicho de mercado. O Clube de Benefícios Dentalis, nascido há três anos, integra profissionais de várias partes do País para intercambiar idéias, expor dúvidas, obter opinião de colegas sobre diagnósticos e interagir com o grupo. Com o software, o dentista consegue calcular seu custo/hora e melhor precificar sua tabela de procedimentos.

 

No início, Aronis conta que o Clube tinha como vocação a disseminação do conhecimento clínico entre os integrantes, mas evoluiu para atender à demanda de outros serviços para seus 1,8 mil associados.  Foi criada uma rede de conselheiros do Clube, que fornecem consultorias desde aplicações financeiras até dicas culturais, incluindo parcerias com fornecedores para desconto em venda de material odontológico, por exemplo. Neste ano, lançará ainda um CD de músicas para som ambiente nos consultórios, propícias ao relaxamento dos pacientes.

 

À medida em que a Dentalis conhece melhor seus associados do Clube – profissionais liberais bem posicionados na carreira, com seis a oito anos de carreira, em média – amplia os benefícios. Na área cultural, por exemplo, atualiza dicas no site que possam interessar aos participantes. Há ainda fóruns clínicos na internet, no qual os usuários conversam por e-mail, e link para o site dedicado ao Clube. A área restrita, que pode ser acessada mediante login e senha, contém biblioteca virtual, artigos, mural e indicador profissional. Para os associados, que recebem o software específico do Clube, com todas as suas funcionalidades administrativas e gerenciais, essa entrada ao conteúdo do site é imediata. A ferramenta tem mensalidades a partir de R$ 68,50, variando em função do número de profissionais que utilizam no mesma clínica ou número de computadores em que será instalado.

 

Com 1,8 mil associados ao Clube, Aronis prevê que a rede irá expandir-se por meio de parcerias com entidades como a Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD) e outras entidades da categoria. O convênio permite que associados da ABCD possam ingressar no Clube de Benefícios Dentalis com descontos. Também existem parcerias com laboratório de prótese e com a rede de lojas especializada em odontologia Dental Moretti, na qual a empresa oferece descontos em produtos que podem ser adquiridos pelo software do Clube. Para a Moretti, além da comercialização de produtos, há um relacionamento do público alvo com a marca.

 

Incluindo esses benefícios incorporados, a meta é que o Clube Dentalis atinja 2,5 mil usuários até o final de 2007 e chegue a 10 mil associados até o final de 2010. Outra vertente do projeto é a conversão dos clientes que possuem softwares mais antigos da Dentalis à adesão ao Clube. Esses usuários passam a ter mensalidade menor e podem usufruir automaticamente de atualizações grátis. O Clube já representa de 38% a 40% do faturamento da Dentalis, que recebeu um aporte da Fapesp para desenvolver sistemas de ERP para operadoras de convênio dentário.

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