As oportunidades à vista



Mais do que cobrar, o importante é recuperar o crédito. Em outras palavras, trazer os consumidores de volta ao mercado. “A recuperação é fundamental no ciclo de crédito e cobrança, pois uma pessoa normalmente é inadimplente por algum problema e não por má fé”, explica José Roberto Romeu Roque, presidente da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito, a Aserc, e diretor da Audac. Mas a tarefa não é simples. É preciso agir com ética, investir em tecnologia, capacitar os colaboradores e ter boa gestão. Foi o que mostrou o II Congresso Nacional de Recuperação de Crédito, realizado pela Aserc, em setembro, na cidade de São Paulo, comemorando os 10 anos da entidade, e que teve o apoio da revista ClienteSA.

Durante dois dias, executivos estiveram reunidos discutindo as tendências, o bom momento vivido pelo mercado de crédito no Brasil e os desafios para crescer. “Ficou claro, no congresso, o crescimento do mercado. O trabalho da recuperação de crédito vem na normalidade com o crescimento da economia brasileira. Hoje, o que podemos ver são estruturas de modelagem e de concessão sólidas, pois a inadimplência não vem subindo”, afirma Roque. O executivo acredita que a crise que o sistema financeiro internacional está sofrendo não atrapalhará.

Francisco Virgílio, diretor de pré-vendas e parcerias da Altitude Software, compartilha a tese de Roque. O executivo acredita que com a facilidade de acesso ao crédito por parte da classe média, muitas oportunidades se abrem automaticamente para as empresas de recuperação de crédito. “Todos os números do mercado demonstram claramente que existe um potencial enorme de crescimento”, explica. Roseli Garcia, diretora da Associação Comercial de São Paulo, concorda. “Temos observado a inadimplência mantendo seus níveis, com uma pequena tendência de elevação. Mas não devemos ter muita surpresa”, comenta.

Para Roseli, o maior desafio vem de fora do Brasil. “O mercado de recuperação vem enfrentando uma forte concorrência, com a entrada de grupos internacionais fazendo investimentos e compra de carteira. Isso acaba orientando para que as organizações negociem taxas menores na hora de contratações”, alerta.

Outro cuidado que as empresas devem ter é com o uso das informações, lembra Eduardo Ramalho, diretor da Experian Marketing Services. “À medida que o mercado cresce é preciso evoluir na forma de utilizar os dados dos clientes”, explica. Para Ramalho, apenas com informações bem estruturadas é possível melhorar a eficiência de recuperação, que nada mais é do que recuperar no menor tempo ao menor custo. “Escutei, durante o congresso, a preocupação do segmento com relação a custos. Porém é preciso entender que R$ 1,00 pode ser caro se ele não trouxer nenhum resultado, R$ 100 mil pode ser barato se trouxer uma recuperação alta. O custo está associado à eficiência”, pondera.

Massimo Tagliavini, consultor de crédito e risco, bate na mesma tecla. “É primordial analisar a pureza da base de dados para realizar uma boa recuperação de crédito”, afirma. Um ponto que o consultor ressalta é o fato de muitas empresas acharem que ainda há espaço para um endividamento maior no Brasil. “Vendo outros países, como EUA, onde a pessoa vive 90% endividada, muitos executivos consideram que o crédito ainda é pequeno no Brasil. Acho um exagero, porque temos um nível alto de taxa de juros. Os americanos têm muito mais endividamento, mas com juros mais baixo. Vejo isso como uma situação perigosa”, afirma.

Outra questão que ganhou destaque foi a legislação trabalhista. De acordo com Roque, essas demandas vão ficar cada vez mais na pauta das reivindicações. Um exemplo é o aumento de salários. “Com o crescimento da economia brasileira, os trabalhadores estão com propensão a solicitar aumentos”, completa. Para o presidente da Aserc, isso gera um desafio para o setor. “O aumento dos salários vai pressionar os custos, para nós e para as empresas contratantes, o que significa que teremos de melhorar nossa produtividade”, conclui.

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