Construtoras corruptas, policiais militares baleando crianças, em simulação de seqüestro, por usar balas verdadeiras em vez das de festim; políticos, juízes, advogados e empresários suspeitos de envolvimento em mais uma das muitas e famosas operações, realizadas pela Polícia Federal; agentes suspeitos de vazar informações; este é, hoje, o triste painel de um País, corroído pela corrupção e cinismo, e “anestesiado” pela estupidez da violência.
Bastaram 25 anos de crescimento econômico anêmico para que as visões míticas e ingênuas de um “paraíso” tropical, descritas por acadêmicos ilustres, como, dentre outros, Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro, mostrassem toda a sua precária veracidade, quando comparadas com certos comportamentos tipicamente anti-sociais de nossos conterrâneos.
Algumas vezes, a literatura serve mais do que a história, a antropologia e a sociologia juntas para entendermos a dura realidade atual do nosso cotidiano. Aconselho o leitor, interessado em compreender melhor o Brasil profundo, a reler “Macunaíma”, de Mario de Andrade; “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto; e alguns poemas, em português arcaico, do bom baiano Gregório de Matos Guerra.
Esses três autores, cada um em seu tempo, foram os primeiros a desconfiar de que o brasileiro não era assim tão bonzinho quanto nos é descrito, em prosa e verso, pelo anedotário popular.
Não há mais nada a ser dito sobre corrupção – endêmica, na maior parte do tempo; e epidêmica, explodindo em surtos, como o atual – brasileira. Tudo já foi lamentado e analisado. A opinião pública está cansada de indignar-se inutilmente.
Ao tratar da “Operação Navalha”, o articulista Arnaldo Jabor simplesmente transcreveu tudo o que havia escrito antes, quando vieram a público os escândalos do “mensalão” e do “valerioduto”.
Que fazer? Excluídas as medidas tópicas, tomadas no calor de cada novo escândalo, há outras que, se adotadas, com certeza, trarão efeitos positivos, no atacado, e no médio e longo prazos. São elas: as reformas política, tributária e do Judiciário.
Além disso, é preciso rever o atual esquema de liberação de recursos do Orçamento Geral da União destinados à execução de obras públicas; e regulamentar, com seriedade e transparência, a atividade dos lobistas.
Além disso, é preciso rever o atual esquema de liberação de recursos do Orçamento Geral da União destinados à execução de obras públicas; e regulamentar, com seriedade e transparência, a atividade dos lobistas.
As três reformas a que me referi são consensuais. A sociedade civil já as debateu e aguarda por elas. O momento para negociá-las com o Congresso é excelente por vários motivos: não haverá eleições neste ano; a situação da economia é estável e pode melhorar ainda mais, apesar do dólar fraco e do real forte; e os parlamentares honestos – acredito que eles ainda sejam a maioria – querem votar leis, capazes de gerar avanços para toda a sociedade.
Voto distrital misto e fidelidade partidária; diminuição da carga tributária, já próxima dos 40% do PIB, com menos impostos (sobre a renda e o valor agregado, federais; sobre o valor agregado, estadual; e sobre serviços, municipal); e mais transparência e controle do Judiciário pela sociedade constituem, hoje, a meu ver, uma agenda mínima para fazer o País avançar.
Claro, há outras reformas, igualmente necessárias, mas sobre as quais ainda não se formou um consenso. Estas podem aguardar um pouco mais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a faca e o queijo nas mãos para realizá-las. Vive um bom momento, resultante do segundo mandato, que as urnas lhe deram, e dispõe de amplo apoio político nas duas casas do Congresso.
A sociedade civil espera, ansiosamente, por mudanças que melhorem a gestão pública republicana e resgatem a auto-estima dos brasileiros. Que elas não demorem!
Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). Email: [email protected]