O mercado de BI, ferramenta que tem objetivo de agregar inteligência ao negócio, está frente a frente a um paradoxo: o crescimento diminui e o fluxo do mercado continua. Para o Gartner, os dias de crescimento da solução estão acabando na medida em que a indústria entra no estado de estabilização do fluxo dos fornecedores, aumentando maturidade e preço. No entanto, o BI continua sendo um desafio para os negócios, uma vez que torna a informação um ativo para o fornecimento de idéias e tomada de decisões. O Gartner orienta os usuários finais a usarem o BI de forma mais intensa em seus negócios, tornando-o mais amigável, colaborativo e orientado a processos.
A previsão para 2012, segundo o Gartner, é que tecnologias emergentes sejam responsáveis por parte da inovação no cenário de BI, tornando mais fácil para os usuários a construção e uso de suas próprias aplicações analíticas e relatórios. As cinco tecnologias que vão ajudar a conduzir a adoção em massa do BI são visualização interativa, arquitetura orientada a serviço (SOA), análises in-memory, busca integrada ao BI e software como serviço (SaaS), este último, a exemplo da Datasul, que disponibilizou recentemente no mercado o Datasul Fleet Management, uma solução SaaS criada originalmente na plataforma Force.com da salesforce.com, que fornece os blocos modulares necessários para desenvolver qualquer tipo de aplicativo de negócios e implementá-los automaticamente como um serviço para pequenas equipes ou para empresas completas.
“As evidências sugerem que o BI é utilizado agressivamente apenas por 15 a 20% dos usuários corporativos. Para o setor ter sucesso, precisa superar o fato de que muitos usuários acham que ferramentas de BI são difíceis de usar”, afirma Kurt Schlegel, diretor de pesquisa do Gartner. Para ele, outras tecnologias, como produtividade pessoal e busca na internet já foram largamente adotadas por usuários tanto na vida pessoal quanto na profissional. “O BI tem a mesma oportunidade para adoção em massa, mas deve superar essa merecida reputação de ser algo difícil”, acrescenta Schlegel.
COLEÇÃO DE RESULTADOS<br>Quem usa, contabiliza experiências positivas. As evoluções ocorridas com a implementação da solução espelham sucesso, a exemplo da companhia Suzano Papel e Celulose, que utiliza, desde julho do ano passado, a NEO, da W5 Solutions, uma solução de baixo custo associada à plataforma Microsoft que permite consultas para todos os níveis da organização com consultas relacionais, multi-dimensionais, KPIs, reports, etc. A ferramenta possibilitou a comparação de alguns indicadores produtivos entre suas unidades fabris, levando em conta pequenas diferenças dos processos em cada planta. Além disso, minimizou a dependência que a área requisitante tem da TI para a extração das informações de acordo com uma nova necessidade.
“Também houve a criação de um cubo para a área de planejamento, facilitando a extração de dados que antes eram feitas de forma manual”, complementa o consultor de TI da empresa, Renan Ogava. “Para melhorar a tomada de decisão a partir das informações da empresa oferecidas pelo BI, é mais fácil e mais assertivo tomar decisões”, diz Marcos Abellón, diretor geral da W5 Solutions. Quanto às melhorias da solução, a Suzano já está com um projeto em andamento para revisar os indicadores do cubo de planejamento.
Desde que implementou a ferramenta da W5 Solutions, a Nestlé Purina Petcare tem acesso a informações mais precisas sobre seus produtos no mercado. A solução ajuda no acompanhamento da estratégia, visando toda a cadeia de distribuição, possibilitando corrigir eventuais desvios no decorrer do processo. “Além disso, podemos fazer cruzamento de informações internas viabilizando um futuro B2B com nossos distribuidores, rentabilizando com um crescimento sustentável”, completa Eduardo Canto, gerente de BI da empresa. Ainda há muito que ser feito em termos de melhorias, segundo Canto, principalmente no que diz respeito às demandas do mercado e à gestão dos distribuidores.
A Aon Affinity também investiu no sistema e há dois anos conta com a parceria da Solver na utilização do Digital Cockpit. Entre as várias melhorias na empresa, são destacadas reuniões mais curtas e produtivas, foco nos objetivos e indicadores mais relevantes. “Como a ferramenta é completa, disponibilizamos aos nossos usuários gráficos de suporte para ajudá-los nas análises, integração de todas as informações da empresa em um único portal, além de obter base histórica de informações para aprendizados futuros”, conta Francisco Fernandes, gerente de gestão da performance da Aon Affinity. Rodrigo Perazzo, sócio-diretor da Solver, diz que o Digital Cockpit pode utilizar metodologias de gestão como balanced scorecard (BSC), six sigma, gestão pelas diretrizes, sistema da qualidade (TQM) ou alguma metodologia utilizada pelo próprio cliente.
Entre as indústrias farmacêuticas, a Bristol-Myers Squibb, usuária do MicroStrategy 8, tem experiência de quatro anos. O gerente do departamento de inteligência de negócios, Gênesis Carmona, acredita que a principal evolução foi a criação de um portal único, com diversas informações estratégicas integradas. Para ele, a facilidade de analisar informações integradas gera conhecimento para suportar e acelerar a tomada de decisão nos negócios. “A plataforma de BI da MicroStrategy é totalmente integrada e tem a capacidade de responder a perguntas mais complexas e permitir o uso de dashboards pela web que facilita o processamento de análises de um grande volume de dados de forma simples, transformando em informações”, explica Flávio Bolieiro, VP para América Latina da MicroStrategy. Agora, o desafio da Bristol é integrar um número maior de informações, aumentar os usuários, criar novos relatórios, análises e dashboards e ampliar a utilização através de programas de treinamento e conscientização.
A Farmalab Chiesi, outra farmacêutica, implementou, no final de 2007, o Advizor, da WG Systems, uma ferramenta capaz de auxiliar no projeto de segmentação de clientes. E apesar do pouco tempo de implantação, a empresa já reconhece melhoras significativas. Segundo Carlos Grzelak Jr, gerente nacional de força de vendas da Farmalab, o Advizor auxiliou no processo de análise, uma vez que realiza o cruzamento de dados de forma ágil e possibilita a visualização dos resultados na forma gráfica, o que facilita a interpretação dos mesmos. “Estamos muito satisfeitos com a ferramenta que adquirimos, bem como com o apoio da WG. Vem sendo um ótimo trabalho de parceria, com ganhos para ambos os lados. Pretendemos ainda atualizar nossa segmentação ao menos uma vez por ano e descobrir outras maneiras do Advizor nos ajudar”, avalia Grzelak. O sócio-diretor da WG Systems, Leonardo Vieiralves Azevedo, completa dizendo que a solução é recomendada para usuários com perfil avançado. “Essa comunidade profissional é pouco atendida por outras soluções de BI, que estão mais concentradas em OLAP e reporting. A facilidade de conectar-se a bases de formatos diferentes, construir rapidamente aplicações e responder questões de negócio é, sem dúvida, um diferencial de valor”.
Na área de marketing de relacionamento, a Sun MRM, que vem apostando no BI da System Marketing há dois anos, também sentiu a evolução gradual das visões analíticas proporcionadas pela ferramenta. A diretora de CRM da agência, Viviane Sbrana, conta que a empresa pretende incluir visões cada vez mais profundas para potencializar os resultados de ações e obter mais assertividade na tomada de decisão. “A condição indispensável de qualquer ação de relacionamento é uma base de dados atualizada. Nossa ferramenta é muito interativa e as bases de dados dos clientes são atualizadas ou complementadas com informações de perfil de consumo, geolocalização, etc”, justifica Guilherme Rocha, sócio-diretor da System Marketing.
A primeira implantação do Datasul Business Intelligence na Cablelettra do Brasil, fabricante de chicote elétrico para automóveis, foi feita em 2006 e a empresa já vem retomando o projeto com a versão atualizada desde o segundo semestre de 2007. “No caso do primeiro BI (versão 1.0) foi importante conhecer a ferramenta e seus benefícios. Mas na recente implementação da versão 2.0 pudemos ver a evolução do nosso cliente interno, no caso a logística, que passou a ter informações gerencias e estratégicas com mais facilidade e rapidez. Com isto, conseguem tomar decisões com antecedência”, conta Karel Bogasch, supervisor de TI da Cablelettra. O gerente de produto da Datasul, Marcus Vinicius Epprecht, diz ainda que a nova versão do Datasul BI será capaz de enviar informações em diversos modelos como gráficos e relatórios na forma de portlets que podem atualizar automaticamente portais de intranet e extranet da empresa, melhorando a divulgação de informações a empresa e ao mercado.
Outra que utiliza Datasul, desde agosto do ano passado, é a Companhia Fabril Lepper. Segundo Valentim dos Santos, gerente de informática da empresa, o BI possibilitou, através da obtenção ágil das informações gerenciais, efetuar montagens de cenários para tomada de decisão, como um simples mapa de vendas por estado num universo de informações básicas e gerenciais, análise de rentabilidade de produtos por área de negócio, linha de produto, etc. “Para uma companhia, o BI é de suma importância, uma vez que este tipo de ferramenta permite, respostas para ações do dia a dia, que obtendo diretamente do ERP, ficam engessadas, não permitindo variar cenários tão necessários para as ações de um executivo”, acrescenta. O diretor comercial da Valéria Indústria e Comércio de Vidros, Emerson Ciampi, concorda. “O BI é uma solução que veio para facilitar qualquer usuário responsável por análises de informações, é o fim dos relatórios com dados fixos onde tínhamos que acumular diversos papéis para tomar uma decisão”. A indústria, que é usuária recente da solução da StarSoft, utiliza a mesma com customizações feitas para a área comercial. “Com apenas uma tela desenvolvida para o comercial, podemos optar por colocar e retirar campos no relatório, oferecendo análises com visões diversificadas”, conclui o executivo. O próximo passo será a utilização da solução em outras áreas como financeira e logística.
APOIO ESTRATÉGICO<br>Tão importante quanto a implementação do BI é o envolvimento dos profissionais na utilização da solução. E os executivos confirmam. “Quem, de fato, irá utilizar a ferramenta, são as áreas. Se não forem mostrados benefícios com essa utilização, não vamos conseguir seu comprometimento com o projeto. Alinhar suas expectativas com o que a solução pode oferecer é crucial para o sucesso da implantação”, avalia Ogava, da Suzano. Grzelak, da Farmalab, divide a mesma opinião. “É importante que os funcionários vejam onde a ferramenta pode ajudá-los e fazer com que enxerguem o que a empresa ganha com isso”. Santos, da Lepper, concorda que esse envolvimento é fundamental para o bom desempenho do BI. “Precisamos orientar as pessoas para que vejam na ferramenta a facilidade em obter todas as informações necessárias para a sua montagem dos diversos cenários”.
Para Carmona, da Bristol, fazer com que os profissionais de BI tenham uma visão e um entendimento do negócio além do ETL e do banco de dados é um desafio cultural. “Enfrentamos a dificuldade de disseminar entre os usuários uma cultura de análise, exploração de dados e produção de conhecimento. Além disso, este é o tipo de projeto que não pode ser implantado por uma única área. Ele depende do envolvimento e empenho das áreas de negócios e da área de tecnologia. Também depende de um programa de comunicação e treinamento muito forte com os usuários”, aposta.
A Aon Affinity tem investido em campanhas motivacionais para manter os usuários da ferramenta atraídos pela solução. “Um bom planejamento e ferramentas adequadas à necessidade do negócio fazem o sucesso do BI”, diz Canto, da Nestlé. Sbrana, da Sun MRM, acredita que a empresa deva envolver o profissional ainda na concepção, no planejamento e na estrutura do database. No caso da Valéria Vidros, os usuários são treinados para utilizar a ferramenta e, como a solução é operacionalmente muito simples, o tempo entre o primeiro contato e a sua utilização é muito curto.
Na Cablelettra, a primeira implementação serviu de exemplo de como os colaboradores precisam entender a importância da solução e do seu funcionamento dentro da empresa. “Os erros cometidos na primeira implantação não estão se repetindo nesta versão. Na primeira vez houve um erro por parte da área de TI como pela diretoria em querer ’empurrar’ uma solução para os gerentes e isto não foi bem aceito”, conta Bogasch.