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Deus lhe page!



Li outro dia texto, em um e-mail, destes que aparece a gente não sabe como e nem quem escreveu, falando de tarifas bancárias. Além de bem escrito, era mais do que oportuno, considerando o cerco que os bancos vêm fazendo com suas tarifas cada vez mais altas e mais desconexas.  De tão contundente, o artigo me lembrou os igualmente duros versos de Chico Buarque, em sua composição, “Deus lhe Pague”:

“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir.
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir.
Por me deixar respirar, por me deixar existir.
Deus lhe pague.”

O texto do e-mail em um momento compara a taxa de abertura de crédito a uma “taxa de acesso ao pãozinho”. Estranharam a comparação? É como se passasse a cobrar para podermos respirar, como diz a música. Seria como se uma padaria passasse a taxar disponibilidade de pãozinho, além do preço do próprio.

Outro exemplo é a tal da “taxa de manutenção de conta”. Imagine se de repente as padarias resolvessem “cobrar pela sua existência”, dispara o autor do texto.  Para abrir uma conta, outra taxa! Agora pagamos simplesmente pela “existência da padaria, por abrirem as portas todos os dias ou ainda por guardar pães quentinhos”.

Mais revoltante do que os valores destas tarifas é a total falta de base lógica para cobrá-las. Ainda vendem isto como diferença de custo-benefício. O pior é que não se pode nem reclamar, porque tudo é permitido pela legislação.

Não defendo a gratuidade dos serviços, nem vou engrossar o coro dos que dizem que os bancos já ganham muito dinheiro. Nada tenho contra a cobrança dos serviços nem contra o fato de se ganhar muito dinheiro. Só não posso estar de acordo com práticas desconexas, que confundem, representam duplicidade de remuneração e são, no final do dia, injustas e abusivas. Por exemplo, cobra-se pela manutenção da conta-corrente e também pelos depósitos, pelos extratos, pelo talão de cheque, pelo saque no caixa eletrônico, pelas retiradas, pelas transferências. O que é manutenção de conta afinal? É igual tributação em cascata e a bitributação tão criticada, de forma justa, quando praticada pelo governo.Os bancos fazem o mesmo, só que com tarifas.

Aí invertem o discurso: dizem que as taxas são para manter a qualidade dos serviços tão bons que o banco presta. Quando, na verdade, elas fazem parte de um serviço que nem tem tanta qualidade assim, basta ver o grau de reclamações registradas no Procon. Independente disso, qualidade não deveria ser paga com tarifas, por ser um valor intrínseco a um produto que já tem o seu preço.Do jeito que são colocadas, parecem  tributos.

Voltando ao texto do e-mail. Em um dado momento, o autor pergunta: “será que o banqueiro aceitaria pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, do posto de gasolina, farmácia, feira ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia a dia, só porque vendem produtos de qualidade? Tenho certeza que não. Mas então, porque impõem isto a nós, clientes?”.

Talvez porque a gente não reclame. Talvez porque quando criticamos, o funcionário do banco leva para o lado pessoal, dizendo: “Eu não tenho culpa, o senhor teria de falar com o dono do banco”. Talvez porque o cliente do lado, em vez de apoiá-lo, vira de lado e até comenta: “Nossa, parece um daqueles motoboys mal educados”. Enfim, reclamar em nosso País é feio. Como era feio pedir democracia nos anos de chumbo.

Abusar pode.

Enio Klein é diretor da K&G e professor nas áreas de marketing e vendas da Business School São Paulo – BSP. E-mail: [email protected]

 

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