O potencial da mobilidade no Brasil é muito grande e ainda está começando, como demonstraram os executivos que participaram do Mobile Meeting ClienteSA realizado no final de outubro, em São Paulo. Com o objetivo de discutir conceitos, tecnologias, tendências e cases com especialistas que fazem parte da cadeia produtiva, demonstramos a viabilidade de um negócio que só promete crescimento. A Conference foi aberta por Alexandre Borin, diretor de Multimedia do Ericsson Mobility World. Ele identifica que 74% dos trabalhadores do País têm celular e que 50% deles precisam do aparelho móvel para trabalhar. Em contrapartida, apenas 1% dos celulares utilizados pelos trabalhadores são fornecidos pelas empresas.
Mas a convergência de tecnologias, com a junção dos sistemas, só vai se consolidar pela experiência do usuário. Com a rede 3G, por exemplo, os sistemas serão mais interativos e multimídia, inclusive no atendimento ao cliente – uma revolução que vai chegar às centrais de atendimento. “Essa tendência de serviços, muito apoiada no que vem se convencionando chamar de Web 2.0 ou Enterprise 2.0, reúne comunidades corporativas, promove integrações e maior colaboração e educação e passa pela identificação da necessidade de uso”, pondera Borin.
No primeiro Painel, Alexandre Fernandes, diretor de VAS (Serviços de Valor Agregado, em inglês) da Vivo, concorda com Borin e reforça que o grande mercado local ainda é a telefonia móvel de consumo. O mercado corporativo ainda está em crescimento no País e foi impulsionado pela transmissão de dados, que agrega tecnologias como voz sobre protocolo de internet (VoIP), abrindo o leque de utilização pela agilidade e redução de custos. Ele comenta que, mesmo dentro da empresa, a área começa a ganhar destaque e importância.
Décio Farias, da diretoria de VAS da Claro, reforçou que é fundamental o “entendimento do cliente do que está disponível no mercado”. Ele comentou que o 3G vai provocar uma revolução de acesso, em qualidade e velocidade, mas que, para acessar páginas simples, ou para quem não precisa de velocidade, não haverá diferença. “A Terceira Geração vai contribuir para quem busca, por exemplo, produtividade e melhor atendimento ao cliente com retorno financeiro”, justifica. Como ocorreu com outras tecnologias novas, a empresa deverá subsidiar a troca dos aparelhos para incentivar a demanda, pela experiência do usuário.
No painel 2, moderado por Orlando Rodrigues, da Mossec, foi apresentado o case da Etna Home Store. A gerente operacional, Fernanda Carbonari, comentou que o grande desafio da empresa era trabalhar a logística de entrega, em função dos grandes prejuízos provocados pela reentrega e o fluxo de campo. O modelo de gestão apareceu como uma oportunidade de gerenciar o pessoal de campo pelo celular, mostrando um fluxo de entregas e criando uma nova cultura entre os entregadores (principalmente o motorista) de dar feedbacks automáticos e on-line. Em função de operar com frota e pessoal próprios, a mudança não foi difícil para a empresa, ficando apenas o desafio de criar o hábito entre os profissionais. Para isso, a Etna modelou o sistema da Compera e criou uma infra-estrutura operacional que inclui aparelhos adicionais para as recargas tanto do sistema como de bateria. Fernanda não comenta sobre redução de custos, mas reforça que o ROI foi muito bom. “Sem a solução, não conseguiríamos criar este fluxo e otimizar todo o processo. Mas posso afirmar que nossa solução foi paga em pouco tempo”, diz. A grande atratividade, que precisa ser um grande diferencial, é a empresa buscar uma solução que se adapte ao seu modelo de negócio, explica Gustavo Rissio, da Compera.
Cartão de Crédito Móvel
O Painel 3 contou o case da parceria entre a Visa e a Moviclip. O CEO da empresa, Guillermo Pizzolo, da Visa argentina, abordou a ferramenta de compras via internet que transforma o smartphone em um cartão de crédito. Basicamente, o projeto consiste em integrar ao aparelho móvel a tarja do cartão Visa, permitindo ao usuário usar o aparelho como canal de compras, reservas e informações. “O cliente pode realizar compras através de SMS, digitando um código exclusivo para aquele aparelho, onde recebe informações sobre a compra, podendo concretizá-la em apenas alguns toques”.
Outra ferramenta é a utilização via Wap que faz o acompanhamento 24 horas dos roteiros de entretenimento, permitindo ao usuário fazer reservas para shows e espetáculos, ou buscando informações sobre preços do ingresso, assentos disponíveis, entre outras. “É uma ferramenta que está revolucionando a forma que o usuário tem de acessar diversos produtos diferentes, pois é como um terminal de validação de cartão de crédito que você leva no bolso. E a segurança é total, pois a compra só pode ser feita pelo usuário do próprio sistema, já que é personalizado”, explica.
Agora, a empresa tem o objetivo de estender o serviço aos demais países da América Latina, através de novos parceiros em tecnologia e serviços. Segundo Pizzolo, o Brasil é um país que mostra um grande potencial para este tipo de serviço, pois tem uma vasta rede de usuários e empresas com ferramentas para potencializar o negócio ainda mais. “Nosso objetivo é integrar cada vez mais produtos e benefícios por meio do celular, já que ele está se tornando não só um meio de comunicação, mas um facilitador de negócios, uma extensão das mãos do usuário, de forma mais individual, gerando uma demanda de serviços e produtos que indubitavelmente levará as empresas do setor a um crescimento mais acelerado”.
A Terceira Geração e outras tendências
Por fim, com a presença de Julio Ramos, da Microsoft, Alex Almeida, gerente de negócios da Vivo Empresas, Jacques Benain, da Claro Empresas, responsável pela venda de soluções de dados para o mercado corporativo e Ronaldo Fernandes, country manager da Moviclip no Brasil e diretor de relacionamento com associados da AMMB, o quarto painel abordou as tendências para os diversos modelos de negócios via mobilidade e a chegada da Terceira Geração.
Ramos destacou a importância das empresas refletirem sobre o crescimento que o ambiente móvel provoca nos negócios. “É indiscutível que os celulares com capacidade de processamento crescem mais que qualquer outro dispositivo eletrônico. No futuro, ele será a mais importante ferramenta de inclusão digital e é importante que as empresas explorem esse universo de maneira estratégica, observando os modelos de negócios pra que não se criem situações onde o cliente não entenda o valor do que é oferecido. Os clientes demandam conteúdo e aplicações de negócios que agreguem valor a sua vida e aos seus negócios”, lembra.
Almeida afirma que vivemos em um tempo de mudanças drásticas, onde a concorrência tem se mantido mais leal, graças à regulamentação da AMMB. “Uma vez que as operadoras conseguem implementar redes especificamente nacionais e igualdade de condições pra competir, isso faz com que o mercado ganhe, pois a concorrência cria uma oferta maior de produtos, com uma qualidade diretamente relacionada a essa oferta”, explica. O executivo lembra ainda que existe muito a ser desenvolvido na mobilidade e que o mercado demanda cada vez mais aplicações. “E nós, operadoras, temos a necessidade de desenvolver aplicações que atendam especificamente as expectativas do cliente, por isso a proximidade com desenvolvedores é fundamental. Essas novas aplicações vão fazer com que a receita das empresas aumente consideravelmente, visto que a voz, hoje, nada mais é que um commodity”.
Almeida também adverte sobre a necessidade de dar foco nas soluções de valor agregado, com a implementação das redes de terceira geração que estão por vir ao longo de 2008. “Vamos ajudar na universalização da internet, porque a capilaridade da rede celular é maior que a da rede fixa, e regiões que sequer imaginam a possibilidade de acessar a internet por banda larga vão se beneficiar através das soluções 3G”, prevê.
A opinião é compartilhada por Benain, da Claro, que acredita que a 3G deve trazer uma nova onda de experiências positivas aos usuários de telefonia móvel, com o acesso de soluções de dados e vídeo-chamada, trazendo uma experiência confortável de internet e viabilizando o uso dos dados via celular. “Precisamos derrubar o mito do alto custo do acesso celular. No mundo de dados, os preços estão alinhados com os das soluções fixas, e esperamos, inclusive, que a mobilidade seja usada para uma nova onda de disseminação da banda larga”. Benain também lembra da necessidade de parcerias com os desenvolvedores. “As operadoras têm de ter parceiros fiéis, porque não têm essa competência de integração dentro de casa. Esse ecossistema de parceiros permite integrar soluções completas e confiáveis”.
Por fim, Fernandes, da AMMB, ressaltou a importância da regulamentação do setor e destacou que o uso do aparelho móvel como modelo de negócio já não é mais uma tendência, mas uma realidade. “Essa nova forma de comunicação e negócios se desenvolve com um poder cada vez maior de persuasão, de comunicação e relevância”. O executivo falou também da importância das operadoras em criar serviços que agreguem, também, os usuários de telefonia pré-paga, como conteúdos patrocinados e compra de horários. “Também devemos estudar mais profundamente o mercado de soluções para varejo, não só do usuário final, mas também das agências que atendem a esse usuário, pois é um mercado que promete crescimento e pode demandar muito do mobile marketing”, conclui.