A riqueza (abundância de recursos) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de um país deveriam ser medidos pela qualidade de seus recursos humanos. Quando se mapeiam, nos atlas geográficos, por exemplo, minérios, alimentos e rios de determinada nação, tem-se a falsa idéia das potencialidades de seu desenvolvimento, pois tais informações, nos tempos atuais, são cada vez mais carentes de dados, educativos e didáticos, que as qualifiquem.
O desenvolvimento brasileiro, desde a época imperial até hoje, tem se nutrido, algumas vezes explicitamente, outras de forma subliminar, da mesma fonte: o ufanismo, “invenção”, felizmente não patenteada, do conde Afonso Celso, aquele do “Porque Me Ufano do Meu País”.
A visão ufanista da abundância dos recursos naturais do nosso País passa aos leitores desavisados – estou me referindo particularmente aos estudantes, porque eles crêem naquilo que lhes ensinam nas escolas – a falsa idéia de que, de repente, as águas do Rio Amazonas transformar-se-ão em riqueza palpável, a ser distribuída à população brasileira.
Obviamente, como isso nunca se realiza no tempo presente, nossas elites, desde a independência até hoje, têm jogado tal expectativa para o futuro, alimentando, com isso, conhecidas fantasias, no imaginário popular. A repetição dessas fantasias acabou por gerar o bordão “Brasil, país do futuro”, como se a simples idéia de porvir resolvesse todas as demandas sociais, econômicas e culturais de nossa gente, acumuladas ao longo de quase dois séculos de história.
Até hoje, quem ousa questionar o futuro brilhante de nosso país é visto pelos demais com certa desconfiança. É a herança do ufanismo!
Mas, voltemos aos recursos humanos, que, em seu sentido mais amplo, nada mais são do que a criatividade, a habilidade e a diversidade de nosso povo, facilmente mensuráveis pela riqueza do folclore, do anedotário, da MPB, dos esportes, particularmente o futebol e do pragmatismo da mão-de-obra.
“Aqui, em se plantando, tudo dá”, dizia Pero Vaz de Caminha, deslumbrado, em sua célebre carta ao rei de Portugal, na época do descobrimento do Brasil. Essa frase (ou profecia), que poderia ter-se tornado a mãe de todos os demais ufanismos, ao contrário, revelou-se totalmente verdadeira. Ocorre que o ato de plantar já está incorporado ao DNA humano, pois é atávico. O mesmo, contudo, ainda não acontece com outras atividades humanas, principalmente com aquelas necessárias ao trabalho especializado. Por tal motivo, estou convencido de que, parodiando Caminha, aqui, “em se treinando, tudo acontece”. Investir em recursos humanos é o melhor negócio que existe: não tem risco e o retorno é alto.
O que o Brasil conseguiu criar, em termos de indústrias, algumas de alta tecnologia, e de serviços especializados, dos anos 50 até hoje, é, de fato, inacreditável. Este, sim, pode ser chamado de milagre brasileiro.
Daí decorre a incontestável verdade: o crescimento sustentado é decorrência da qualificação do ser humano, este, sim, o grande fator diferencial que o Brasil precisa – e deve – ter sempre em conta para tornar-se, rapidamente, uma nação plenamente desenvolvida.
Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). E-mail: [email protected]