O otimismo no mercado de crédito e cobrança ainda é grande. O Banco Central aponta que o volume de crédito ofertado pelos bancos avançou 1,3% em fevereiro deste ano, alcançando a marca de R$ 1,73 trilhão, correspondente a 46,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos 12 meses até fevereiro, houve expansão de 21%. A expectativa é que a trajetória de crescimento continue. Porém, alguns números indicam uma desaceleração na demanda por crédito. Além disso, a inadimplência tem aumentado nos últimos meses. Outro ponto que chega para transformar a atividade é o cadastro positivo. São novos desafios que se apresentam para toda a cadeia produtiva. Entender esse momento e saber qual a estratégia adotar será fator determinante para acompanhar o ritmo do crescimento econômico do Brasil, como irá mostrar o Encontro ClienteSA IRC+ Fórum Witrisk, marcado para os dias 04 e 05 de maio, em São Paulo. Com o tema “O ABCD de cada setor para inovar e maximizar a eficiência em um forte ambiente competitivo”, os painelistas irão debater todas as pontas da atividade, refletindo sobre temas fundamentais para os gestores do ciclo de crédito e cobrança, como gestão de pessoas, novas tecnologia, regulamentação, terceirização e análise de risco. “Nos últimos 16 anos pós Plano Real o mercado de crédito e cobrança brasileiro passou por uma verdadeira revolução do ponto de vista processual e tecnológico. Houve o surgimento de modelos estatísticos para apoiar a decisão, desenvolvimento de ‘workflows’ automatizados, árvores de decisão para construção das políticas de crédito e cobrança, desenvolvimento de sistemas discadores, metodologias de segmentação, entre outros”, aponta Henrique Castro, diretor de estratégias e novos negócios da Boa Vista Serviços.
A questão que mais se impõe nesse momento é o crescimento em menor ritmo da demanda por crédito. De acordo com indicador da Serasa Experian, a quantidade de pessoas que procurou crédito cresceu 5,7% em março de 2011 em relação ao mês anterior. Com esse resultado, a demanda do consumidor por crédito expandiu-se em 12,9% no acumulado do primeiro trimestre de 2011 na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse resultado foi inferior à expansão de 16,4% verificada ao longo de todo o ano de 2010 bem como ao crescimento de 18,3% registrado no quarto trimestre do ano passado, o que demonstra uma desaceleração, determinada tanto pelas medidas adotadas pelo Banco Central no inicio de dezembro do ano passado, quanto pelo atual ciclo de elevação das taxas de juros, salientam os economistas da Serasa Experian. “Para manter o índice de crescimento os operadores de crédito deverão procurar soluções inovadoras para compensar as medidas restritivas”, aponta o diretor da Boa Vista. Apesar das medidas restritivas do governo, Castro acredita que a oferta de crédito continuará crescendo. Para ele, o crédito pode atingir 70% do PIB nos próximos anos, fomentado pelo crescimento da oferta de produtos de financiamento, principalmente para crédito imobiliário. “Um fator que demonstra o grande potencial para o crescimento do crédito junto aos consumidores nos próximos anos é a relação entre a renda pessoal disponível e a oferta de crédito, que se mostra quatro vezes superior quando comparada a de outras economias como EUA, Canadá e Chile”, explica Castro.
Já o Indicador Serasa Experian de Perspectiva da Inadimplência do Consumidor cresceu 1,7% em fevereiro. Esse foi o sétimo avanço mensal consecutivo, atingindo o nível de 97,8, o que sinaliza que a inadimplência deverá continuar se elevando ao longo do primeiro semestre de 2011, podendo estender esta trajetória de elevação para os meses iniciais do próximo semestre. “Com o crescimento do crédito, vem o risco da inadimplência, um desafio que nos promove ainda mais a inteligência e faz com que as instituições cresçam e se renovem, que os consumidores se eduquem e se preparem, que os desenvolvedores de soluções se especializem e o país evolua”, pondera Fernando Manfio, fundador e diretor da Witrisk. Para lidar com esse crescimento, o conhecimento da base de clientes por meio de ferramentas estatísticas e quantitativas de avaliação de risco e comportamento em conjunto com soluções que permitam a parametrização de estratégias de gestão de crédito e fraude são fundamentais, de acordo com Castro. “O monitoramento adequado dos clientes e ações preventivas de cobrança ajudam a manter os clientes ativos, com um nível de endividamento adequado a capacidade de pagamento de cada cliente”, reforça.
CADASTRO POSITIVO<br>Outra ferramenta que deve auxiliar a tomada de decisão na oferta de crédito, além de impor novos desafios ao setor, é o cadastro positivo. Baseado no compartilhamento de informações comportamentais do consumidor, ele possibilita distinguir bons dos maus pagadores, os quais representam perfis diferentes de risco. “Com o risco melhor conhecido e dimensionado, os financiamentos não honrados devem cair”, afirma Ricardo Loureiro é presidente da Serasa Experian e da Experian América Latina. O Banco Mundial calcula que, com o cadastro positivo em sua plenitude, a inadimplência do consumidor no Brasil pode cair 45%. Com essa perspectiva, a Serasa Experian, partindo dos dados do Banco Central, desenvolveu um modelo para estimar os efeitos do cadastro positivo no Brasil. O estudo aponta que o impacto no crédito ao consumidor, apenas pela redução do spread bancário, será de R$ 46 bilhões, entre dez e 18 meses. “O recurso, decorrente da melhor qualidade dos financiamentos, pode retornar às carteiras de crédito para novos empréstimos, caracterizando-se como o impacto primário do cadastro positivo”, comenta Loureiro. “No Brasil, ele dá os primeiros passos, mas é importante conhecer que mudanças essa nova forma de avaliar risco vai empreender na economia e na vida dos consumidores. E, como visto, elas serão para melhor”, completa.
O cadastro positivo já foi aprovado pelo Senado, porém deve passar por mudanças já que foi vetado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, que editou em seu último dia de mandato uma medida provisória (MP) sobre o assunto. Para a Associação Nacional dos Bureaus de Crédito, entidade em formação que reúne empresas do segmento, como Serasa Experian, Equifax e Boa Vista Serviços, o cadastro perderá eficácia se for mantido o novo texto enviado pelo governo que permite a saída do cliente a qualquer momento. A MP dá nova roupagem à proposta para atender os protestos dos institutos de defesa do consumidor, que a consideram discriminatória. Caberá agora ao Poder Executivo regulamentar o que dispõe a MP. “É preciso entender que com o cadastro positivo, todos saem ganhando. Consumidores, porque terão mais e melhores condições de acesso a crédito. Fornecedores, porque terão à sua disposição informações completas para mensurar o risco de crédito de cada cliente. E o ambiente macroeconômico será beneficiado porque a concessão de crédito se dará em bases mais criteriosas, evitando o superendividamento”, comenta Henrique Castro.
CARTÕES DE CRÉDITO – Governo define novas regras<br>Novas regras para o mercado de cartões de crédito foram aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no final de 2010. Serão alterados os limites de pagamento mínimo das faturas mensais. A partir de 1º de junho, o pagamento mínimo da fatura passará a ser de 15% do extrato. E em 1º de dezembro de 2011, o porcentual mínimo de pagamento mensal sobe para 20%. A definição de um valor mais elevado de pagamento mínimo para faturas de cartão de crédito visa evitar o superendividamento das famílias. Também foi estabelecida regra para o envio de informações relativas às tarifas, entre elas a que estipula que bancos precisam anunciar com 45 dias de antecedência o início da cobrança de serviços considerados “prioritários” e/ou o aumento dessas tarifas. O atual prazo de aviso de 30 dias para os demais serviços fica mantido.
O pacote de medidas determina ainda quais são as cobranças que poderão ser feitas pelas operadoras de cartões, quais os tipos de cartão de crédito que poderão ser oferecidos (básico e diferenciado), formas de envio, entre outras medidas. Para o especialista em finanças Antonio De Julio, da Moneyfit, as novas medidas vão ajudar os brasileiros em relação às cobranças dos cartões de crédito. “Pela falta de padronização que acontecia antes, muitas cobranças só eram conhecidas na hora da entrega dos boletos nas mãos dos consumidores, principalmente no que se trata das taxas dos parcelamentos e do crédito rotativo”, explica.