O fruto da Copa, aos usuários!



Realizar a Copa do Mundo de futebol no Brasil, em 2014, foi o último grande presente que o governo do presidente Lula recebeu, antes do estouro da “bolha” imobiliária nos Estados Unidos, que deu início à atual crise financeira. Se tudo der certo e o Brasil fizer a lição de casa, após o encerramento da Copa, o vencedor – sendo ou não a seleção brasileira – será o usuário brasileiro, que terá à sua disposição, aeroportos sem congestionamentos, ramais de metrô de superfície, ou bondes rápidos articulados com outros meios de transporte coletivo.

Os turistas brasileiros e estrangeiros também sairão vencedores, uma vez que poderão usufruir de infra-estrutura – ao menos nas dez ou 12 cidades onde ocorrerão os jogos – só existente, hoje, em países do primeiro mundo. Imaginando-se que tudo dê certo até 2014, o País teria, no linguajar de economistas, o lucro marginal de credenciar-se (com alguma chance de vencer, pois a concorrência nesses casos é feroz) para sediar as Olimpíadas, de 2016.

Vejamos quais são os principais entraves para que tudo dê certo. Em 2009, a capacidade do governo será posta à prova. De 2003 até meados deste ano, antes da crise americana, o País “surfou” nas ondas tranqüilas da conjuntura internacional: recordes de exportação, criação de empregos, diminuição da pobreza e reservas estratégicas superiores a US$ 200 bilhões. Inebriado pelo sucesso fácil, o governo “esqueceu-se” de cortar gastos públicos e de completar as reformas, que, em seu conjunto, tornariam o ambiente de negócios mais atraente para investidores nacionais e de fora. Embora tenha tomado algumas medidas para evitar turbulências, não esperava que a crise americana se espalhasse com tanta rapidez pelo mundo.

Sem tempo para reformas e pego de surpresa pela crise, restará ao Brasil atravessar 2009 tentando compensar efeitos da desaceleração do crescimento econômico dos países ricos e também dos emergentes.

E isso não será fácil.

Outro aspecto a ser considerado é que entre 2009 e 2010, Lula estará nos dois últimos anos de sua administração. E aí surge a questão: interessa ao governo investir recursos em um projeto que transcende o tempo do seu mandato? Além disso, ninguém, hoje, apostaria na vitória, em 2010, de um postulante do PT ou de outro partido aliado do governo. Infelizmente, não é comum o governo iniciar obras que serão terminadas após o término de seu mandato. Ainda mais quando, como é o caso, o sucessor de Lula pode ser da oposição.

Para se esquivar do cronograma de obras, imposto pela Fifa, o governo Lula poderá alegar as dificuldades impostas pela iminência da crise financeira internacional, deixando o “abacaxi” para seu sucessor, que teria de arcar com o ônus político, caso viesse a desistir de sediar a Copa.

Em resumo, a situação é a seguinte: há tempo e recursos para reformas nos estádios e em toda a logística necessária para realizar uma Copa do Mundo. Os ganhos para os usuários de serviços públicos e turistas (daqui e de fora) serão enormes. No entanto, para realizar o sonho de sediar mais uma Copa do Mundo, é necessário que o governo e a oposição se entendam e que mantenham o cronograma de obras acima de suas eventuais divergências.

Sediar evento desta importância é bom para qualquer país. Por isso, governo e oposição, fiscalizados pela opinião pública, terão de transformá-lo em realidade, somando esforços, apesar da crise. É bom lembrar também que governo e oposição poderão inverter seus atuais papéis, a partir de 2011.

Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).E-mail: [email protected]

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