“O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile. O povo, nas calçadas e nas janelas, não querendo passar por tolo, exclamava: que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido!
Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso! Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo tudo muito estranho e gritou: coitado! Ele está completamente nu! O rei está nu! O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar: Ele está nu! Ele está nu! O rei está nu! “”.
Faz tempo que nós, consumidores, reclamamos da pouca qualidade das centrais de atendimento
Estudando o assunto com maior profundidade, a minha percepção é de que o olhar das empresas para a qualidade do atendimento pode estar se restringindo as situações onde as coisas dão certo. Onde tudo corre bem. É mais fácil pesquisar satisfação quando se sabe que não existem problemas sérios. É fácil apontar qualidade quando produtos não apresentam defeito. É fácil sorrir quando todos estão satisfeitos. Mas, e quando não estão?
A eficácia dos serviços é tão mais exigida quanto mais grave ou urgente é a questão. Na perspectiva do cliente, deveria ser. Quando tudo está bem, o relacionamento é uma festa, mas quando não está tudo bem é a hora de se mostrar humildade e capacidade de reverter a situação no menor tempo possível. É hora de agüentar e respeitar a angústia, impaciência e até mau humor do cliente. Tudo pela promessa de valor da empresa, quando esta é a excelência no atendimento.
Infelizmente o mais se percebe é que quanto mais difícil a situação, maior o despreparo para lidar com ela. O sorriso some, a informação fica escassa e o cliente abandonado. Quando mais precisa é quando menos tem. Como na famosa fábula de Hans Christian Andersen “A roupa nova do rei”, o recente episódio ocorrido no último Natal nos aeroportos brasileiros é prova concreta.
Grande parte dos serviços de atendimento quando é percebida a gravidade, que o cliente pode ter razão e que terão de tomar uma atitude rápida, se perde em seus processos. Não é fácil, para quem não sabe lidar com dificuldades, principalmente quando se depende de processos e decisões que dependem de instâncias superiores. Perdem a educação, a consideração e a elegância. “O senhor precisa entender…” é a expressão mais comum nestas situações onde a empresa precisa avaliar e muitas vezes mudar a sua disciplina de valor em nome da promessa de excelência feita aos clientes. E aí a casa, muitas vezes, cai.
Não foi diferente com as companhias aéreas. Foi um teste implacável. Na situação extrema, o preparo se transforma na mais comum das atitudes: indiferença. A empresa primeiro, o cliente depois. Desta vez, a imprensa mostrou pela TV e pela Internet ao vivo que há muito já aflige os passageiros de vôos nacionais e internacionais. Falta de aeronaves, cancelamentos ou atrasos em vôos e sem que nenhuma satisfação seja dada. Clientes abandonados no telefone, nos balcões e saguões de aeroportos. “O rei está nu!”.
Seja como for, o episódio – mesmo que se apontem razões justas -, levantou uma questão que precisa ser tratada pelas empresas
Enio Klein é diretor da K&G e professor em cursos de MBA/Marketing da FEA/USP