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Relacionamentos comerciais ainda dependem de QI?
Usar a inteligência é, com certeza, uma boa estratégia para tudo na vida. Mas vocês sabem que eu não estou falando desse tipo de QI. Estou falando em ter que conhecer alguém na empresa para resolver um problema, o tipo de atitude/postura que deveria ter acabado na era das centrais de relacionamento. Mas que continua, infelizmente, muito viva.
Um caso? Fresquinho? Saindo, então…
Em 2001, outubro ou novembro daquele ano, não sei ao certo, um amigo meu recebeu um telefonema da central de atendimento do banco onde tinha e tem conta. Teor do telefonema: ele não precisaria se preocupar se aparecesse cheques devolvidos
Nos meses seguintes, de fato, apareceram cheques devolvidos. Alguns, até, de valor considerável. Ficou nisso, porém. E, com o tempo, meu amigo tirou aqueles cheques roubados da cabeça.
Algumas semanas atrás, porém, a mulher do meu amigo liga pra ele: “A polícia está aqui em casa, querem entregar uma intimação. Disseram que seu nome apareceu na investigação de um golpe
Naquela noite, ele conversou com outra amiga nossa, advogada, embora não criminalista, que o aconselhou a antecipar-se e ir à delegacia ver do que se tratava. Ele foi no dia seguinte lá na delegacia e conversou com a escrivã, uma mulher muito simpática que permitiu que ele olhasse uma Carta Precatória, enviada por uma delegacia do interior de Santa Catarina, referente a um processo de estelionato. E lá estava um cheque do meu amigo, datado de janeiro de 2002. Com uma assinatura completamente diferente da dele. Foi aí que caiu a ficha: eram os tais cheques roubados em 2001. Ele até explicou à escrivã, mas ela foi clara: sem documentos, a palavra dele valia nada. Ele que fosse até o banco, arranjasse evidências e voltasse na data marca para o “interrogatório”, após o qual seria ou não indiciado!
No outro dia, meu amigo foi até a sua agência e conversou com a gerente. Na hora, abriram uma “ocorrência” na Central de Relacionamento do banco. Ele insistiu que precisava receber antes da data do “interrogatório”.Àquela altura, todo o círculo de amigos e parentes sabia do acontecido e davam palpites, opiniões, conselhos. Unânimes, apenas, em relação ao fato de que ele devia arranjar um advogado, preferencialmente alguém com experiência em polícia, processos criminais, essas coisas.
O primeiro advogado com quem conversou pediu 3 mil reais para início de conversa. Achou um absurdo, afinal não tinha feito nada. Até tinha como pagar, mas se não tivesse, iria para a cadeia por algo que nem remotamente havia feito? Sequer havia sido negligente, pois confiara no banco. Aí, deu-se a luz: o jurídico do banco. E passou os três dias seguintes tentando conseguir o telefone do jurídico do banco. A Central de Relacionamento, literalmente, recusou-se a dar, transferindo-o de um lugar para o outro até a ligação cair. Mais de uma vez. A gerente ficou de dar retorno. E não deu.
O conselho dos amigos agora era diferente: todos concordavam que ele devia procurar sim um advogado, mas para processar o banco. No mínimo, disse aquela sua amiga advogada cível, vamos enviar uma notificação judicial para garantir que qualquer despesa sua seja ressarcida. Nesse ínterim, um outro amigo nosso entrou no circuito. Amigo íntimo do presidente de uma das empresas ligadas ao banco, ele colocou essa pessoa em contato com o meu desvalido amigo e poucas horas depois alguém do jurídico do banco já estava falando com meu amigo e providenciando tudo.
A essa altura, já estávamos na véspera do tal “interrogatório”, a data limite que meu amigo estabelecera na solicitação que fizera à Central de Relacionamento do banco. Como se fosse uma ironia do destino, mal a conversa com o jurídico acaba, toca o telefone e é alguém da Central do banco. Esse alguém informa que, infelizmente, não podiam dar o documento solicitado, “porque não haviam encontrado nenhuma ocorrência em
Resumo da ópera: o caso foi resolvido. Na força bruta do Quem Indica, porém. Sem traço qualquer de inteligência, portanto. O que aconteceria com um cliente comum? Estaria às voltas com o problema. Em compensação, teria entrado com uma ação de perdas e danos morais que, até porque seria muito fácil comprovar sua inocência, custaria milhões de reais para o banco. Que se somariam às dezenas de milhões de reais que o banco gasta com a Central – para cuidar apenas do óbvio.
É impressionante o que acontece quando temos essa grande ferramenta que é o QI. E o mais interessante é que eu não fico surpreso ao ler, já que em nosso país acontece isso na política. Enfim, é um erro as vezes de falta de diálogo das empresas, que acaba criando bolas de neve com os clientes.
Parabéns pelo post Fernando.