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A insônia e o cérebro

Autor: Edilson Menezes
Cérebro saudavelmente cansado dorme. Isso mesmo. Ainda que após o trabalho se faça exercício físico, meditação ou massagem, a mente de quem deu tudo de si durante o dia estará cansada e precisará do sono para repetir a excelente performance no dia posterior.
E se a pessoa teve um dia agitado, trabalhou muitas horas, exercitou-se, meditou e ainda assim, sentiu insônia?
Em tese, ela deveria “deitar dormindo”. Se assim não ocorre, algo que merece atenção pode ter ocorrido.
O cérebro colocado em exercício físico ou profissional sob formato de piloto automático não se cansa. É o que ocorre com o colaborador que está ali, de corpo presente, sentadinho e fazendo o seu trabalho, mas longe, muito longe mentalmente.
Ainda mais grave é a generalização que nosso cérebro começa a fazer quando percebe que “curtimos” o preguiçoso cruise control. Passamos em média 8 horas diárias no trabalho. Ou seja, no mínimo 1/3 do dia. Investimos em média mais 1/3 das 24 horas em sono (para quem consegue dormir). Isso significa que as 8 horas disponíveis para o lazer, a atividade física ou que desejarmos fazer pode estar sob a influência de um padrão.
Como o cérebro percebe que curtimos trabalhar sem direcionar muito esforço para zonas como criatividade, imaginação e singularidade, o órgão genial pode entender que queremos passar também as outras duas frações do dia em piloto automático.
Malhar é um fardo ou nos exercitamos motivados pela mesma “obrigação” que devemos aos que nos empregam?
Conhecer lugares novos e fazer coisas diferentes é difícil ou temos inventado pretextos que preservem e mantenham a mesma rotina?
Dormir é um exercício difícil ou nossa mente tem se exercitado tão pouco, que quando nos deitamos ainda está cheia de atividade e gás para queimar?
É uma máquina intensa e não se conforma com pouco. Ao perceber que tem sido usado muito abaixo do potencial, o cérebro, por instinto de preservação, pode deflagrar crises insones como uma maneira de avisar que quase não trabalhou naquele dia. Afinal, pergunte a qualquer pessoa que sinta insônia:
– Enquanto não consegue dormir, seu cérebro está quietinho, quase sem pensar em nada?
Ouso duvidar. O cérebro de quem não consegue dormir está em ritmo acelerado e na maioria dos casos, negativamente acelerado. Enquanto o sono não vem, a pessoa não pensa na felicidade, no amor que sente pelos seus ou na beleza do mar. Ela fica remoendo sobre as dívidas do ano, as contas a pagar no dia seguinte, o chefe intolerante, o relatório atrasado que deve entregar, a injustiça que sofreu, os problemas com a família ou qualquer pensamento que mantenha seu cérebro em atividade.
Quando não existe mais nada para pensar de negativo, o cérebro se cansa e puff, como num passe de mágica, o sono e o cansaço vencem a insônia.
Eis algumas dicas para você que toda ou quase toda noite sente a terrível insônia lhe colocando as algemas:
A insônia, para que seja rara, deve ter pouca consideração cerebral. Jamais use expressões tão comuns como: “não dormi nada na última noite, minha insônia não deixou”.
Alguém colocou a insônia numa caixa de presente e trouxe até você, no dia do aniversário? Então, não é sua. Troque a frase por “não dormi nada na última noite, a insônia não deixou”. Isso será suficiente para o cérebro entender que você não tem a insônia no sentido de posse e apenas a encara como algo transitório. Diga sempre “eu estou com insônia” e nunca “eu tenho insônia”.
Analise seu comportamento profissional. Se há muito tempo você não entrega uma ideia, algo que satisfaça o processo criativo que está em sua essência, questione-se. A maior parte das pessoas não o faz e usa como pretexto o fato de que “suas ideias não são ouvidas”. Em algum momento, mude para alguma organização que lhe escutará. Não se mantenha num trabalho que proíba inovações.
Canse o cérebro de maneira positiva. O único modo de fazê-lo é se proibir de fazer as mesmas coisas da mesma maneira. Escolha novos caminhos para chegar ao trabalho, troque o elevador pela escada, reorganize sua mesa ou estação de trabalho, almoce em lugares diferentes, faça novos amigos e principalmente, use o melhor placebo contra a insônia: antes de dormir, leia obras ou revistas de temas com os quais não tenha muita intimidade.
Encontre, entretanto, o ponto de equilíbrio. Não tente resolver 100% de sua vida em um dia. O verbo esgotar não deve ser cogitado. Vá aos poucos forçando o cérebro ao melhor uso. Cansar é o verbo ideal para esta filosofia de vida.
Cada atividade que mencionei e tantas outras que você pode adicionar exigirão da mente um pequeno esforço de mudança e qualquer especialista em sono pode confirmar: cérebro bem exercitado desconhece insônia.
Respeitarei se você decidir viver com o botão do cruise control sempre acionado, mas vou torcer para que encoste levemente o pé no pedal do freio e o desarme. Quem já dirigiu um carro com piloto automático sabe do que estou falando. Quem já teve insônia também sabe…
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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