Excelente péssima pessoa

No imenso palco da vida, é frequente depararmos com indivíduos que desafiam nossas noções convencionais de ética e moral. A presença intrigante daquilo que eu gosto de chamar de “excelente péssima pessoa” nos coloca diante de um enigma humano – um que muitos de nós conhecemos intimamente, talvez até dentro de nós mesmos.

É altamente provável que você já tenha encontrado ou até mesmo se reconhecido como uma excelente péssima pessoa em seu círculo social. Essa dualidade complexa é fascinante; ela brilha com qualidades que cativam, mas também sombreia com atitudes que desafiam nossa compreensão de ética e moral.

Essa figura enigmática tem inúmeras facetas que a tornam inesquecível. Ela é a alma da festa, aquela que traz risos e energia a qualquer encontro. Sua companhia é como um raio de sol em dias nublados, e sua prontidão para oferecer ajuda e conselhos é digna de admiração.

No entanto, como uma moeda de duas faces, essa pessoa muitas vezes trilha um caminho antiético e imoral. Quando sai para balada, bebe todas e sempre diz que está bem para dirigir e, inclusive, dá caronas para os amigos que beberam e não foram de carro. Se um amigo precisa parar na farmácia, ele leva e para na vaga de idoso, já que anda com o cartão do pai dela. Para também nas vagas de idosos em supermercados, açougues, correio e etc., afinal ela tem o cartão do idoso. Vai dirigindo com os amigos para praia e se estiver congestionado, anda no acostamento. Ela diz que tem um amigo que trabalha no departamento de trânsito que cancela as multas. Compra produtos piratas e tem aquela caixa que dá acesso a todos os canais de TV por Assinatura sem pagar mensalidade. Tem cônjuge, mas sempre mantém amantes, afinal ela não sabe o dia de amanhã. Na política e na hora de votar e escolher seus candidatos, ela é pragmática. Só vota em quem pensa e age como ela. Também se considera generosa e, todo final de ano, retira tudo que é trapo velho do guarda-roupa e doa para empregada.

A ética e a moral, fundamentos que guiam nossas escolhas, são desafiadas pela excelente péssima pessoa. Sua conduta nos leva a examinar se a bondade ocasional compensa os momentos de negligência e irresponsabilidade. A ética e a moral não se restringe a seguir regras, mas a refletir sobre o impacto de nossas ações nos outros e em nós mesmos. A excelente péssima pessoa fornece um espelho para essa reflexão, revelando como nossa dualidade interna pode afetar nossa conduta externa.

A verdade é que todos nós enfrentamos essa batalha interna entre o que é certo e o que é conveniente. Quem nunca justificou um erro com uma ação anteriormente nobre? A excelente péssima pessoa nos lembra que a integridade não é apenas sobre fazer o bem em momentos isolados, mas também sobre manter essa integridade em todos os aspectos da vida, sem ser antiética e imoral.

Devemos lembrar que nossa jornada ética é uma busca contínua pela congruência entre nossos valores e ações. Olhando além das aparências, é fundamental explorar as motivações por trás das decisões que tomamos. A excelente péssima pessoa pode ser vista como um chamado à introspecção, à análise de nossas próprias dualidades éticas e morais e à busca pelo equilíbrio entre ser uma pessoa admirável e ser responsável.

Ao nos depararmos com essa dualidade intrigante, somos convidados a questionar e aprimorar nossa própria conduta. A jornada ética e moral é uma busca profunda, que exige autoconsciência, autorreflexão e o compromisso de crescer como indivíduos. Sejamos os arquitetos de nossa própria integridade, equilibrando a excelência da generosidade com a excelência da responsabilidade.

Assim, ao enfrentar o dilema da “excelente péssima pessoa”, estaremos verdadeiramente trilhando um caminho de autenticidade, integridade e autorreflexão constante, na busca de sermos apenas “uma boa pessoa”.

Xiko Acis | Provocador
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