Em um cenário de incertezas, a única certeza é a necessidade de estar sempre em evolução. Até aí, aparentemente, nada de novo, afinal, já está provado que ficar parado é correr o risco de perder mercado. Porém, em um mercado altamente competitivo, essa questão se torna ainda mais crucial. Pois na ponta temos um cliente mais exigente, com muito mais poder de decisão. Assim, o desafio é saber se antecipar às tendências. Fácil? Pelo contrário, exige muito esforço, boa percepção, conhecimento e, principalmente, uma cultura voltada à inovação. Dessa forma, além de sair na frente, é possível se adiantar a possíveis transformações e oscilações do mercado, como foi evidenciado no XIII Encontro com Presidentes, realizado no dia 27 de novembro, no Hotel Renaissance, em São Paulo. Associando altíssimo nível de network, profissionalismo e conteúdo, o congresso reuniu personalidades representativas e que agregaram valor. Entre eles, líderes da Chubb Seguros, Netshoes, MercadoLivre, 99Táxis, Nutrimental, Englishtown Brasil, Desenvolve SP, Fenadvb, VoxLine, Maksen e Pieracciani Desenvolvimento de Empresas.
Como consenso, os presidentes reforçaram a importância vital da inovação, como mola para o crescimento, em um cenário empresarial de grandes transformações. O desafio é identificar as oportunidades em meio a consumidores cada vez mais ávidos por novidades. Da mesma forma, os presidentes projetaram alguns cenários de desafios para os próximos anos, indo além do ambiente empresarial. O principal é o futuro incerto da economia brasileira, que depois de passar por uma fase de grande crescimento, já vem dando sinais de desgaste – alta da inflação, PIB baixo, aumento do desemprego. A dúvida fica por conta das decisões que serão tomadas no novo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ainda não se sabe se haverá uma mudança na forma de governar ou mais do mesmo. Mas, entre otimismo e pessimismo, os presidentes deixaram claro que é preciso mudar, e muito, começando pelas Reformas. Só assim, o país voltará a trilhar o caminho do crescimento. Ao final, houve ainda o almoço de entrega dos troféus do 2º Prêmio ElogieAki, que teve a Netshoes como a grande vencedora.
Evolução ou mais do mesmo?
Em cenário de incertezas, Governo deve avançar nas mudanças para retomada do crescimento
Ainda há muitas dúvidas sobre o futuro do Brasil. Crescimento, crise, economia estagnada. O que vem por aí? A pergunta ronda a cabeça de 10 entre 10 executivos. Ela ainda está longe de ser respondida, porém com o anúncio da nova equipe econômica, o Governo deu o primeiro sinal de mudanças. Mais do que isso, abriu caminho para uma retomada do crescimento, deixando boas perspectivas.”Está difícil prever algo, mas já há um vislumbre de melhoras. Resta saber quais outras medidas teremos”, comenta o chairman da Chubb Seguros, Acacio Queiroz.
A conjuntura política brasileira por si só já é um desafio. O país saiu da última eleição presidencial dividido regionalmente e socialmente. Da mesma forma, na distribuição do poder estadual, com predomínio dos principais partidos, mas dentro de um equilíbrio. Nesse cenário, o desafio da presidente é reorganizar a base para governar. No âmbito econômico, os desafios também não são poucos, se não até mais difíceis, segundo Acácio. Temos um cenário com muitos alertas. O PIB caiu, a balança comercial ficou negativa depois de 10 anos, a geração de emprego diminuiu e a taxa de consumo da família está caindo, principalmente na classe C. Por outro lado, há sinais que ajudam a manter a esperança, como a evolução do crédito, a manutenção do investimento estrangeiro e o próprio fato de não estarmos ainda em crise.
Como mais provável, o chairman vê o retorno do equilíbrio econômico. No entanto, para que isso efetivamente aconteça, Acácio destaca que é preciso um ajuste fiscal, a redução da inflação e dos juros e uma melhoria do ambiente de negócios, tornando o Brasil mais atraente para investimentos. “Caso isso seja feito, iremos retomar o crescimento, do contrário, se continuarmos com mais do mesmo, não teremos evolução”, sentencia.
Reflexão necessária
Mais do que fazer críticas, presidentes apontam os caminhos para que o Brasil volte a crescer de forma vigorosa
Depois de um período de forte crescimento, o Brasil vem nos últimos anos dando alguns sinais de alerta. Ainda não é uma crise. Porém, a economia já não demonstra a mesma força de outros tempos, reforçando a tese de que está na hora de mudar. Como? Incentivando a produtividade, concretizando a promessas de reformas e ampliando o investimento na capacitação da mão-de-obra, como levantam alguns presidentes. “Estamos passando por um momento de reflexão, em que é importante levantar as questões que afligem nosso desenvolvimento. Não é criticar por criticar, mas apontar os caminhos”, destaca Miguel Ignatios, presidente da Fenadvb.
A partir da experiência conquistada ao longo dos anos nos diversos cargos que ocupou na área privada e pública, o deputado estadual Vitor Sapienza reforçou essa tese ao afirmar que a culpa pelo Brasil estar na situação atual é de todos, que não souberam pressionar o Governo. “De certa forma, somos os culpados pelo que aconteceu no País, pois não houve oposição, seja por comodismo ou medo”, afirma. Na opinião do deputado, é preciso ter coragem para enfrentar os problemas e mostrar o que está sendo feito de errado. “Como exemplo, temos o problema educacional, em que o Governo investe milhões nas faculdades públicas sem se dar conta de que forma isso está sendo gasto.”
Ainda sobre educação, o country manager da Englishtown Brasil, André Marques, coloca a capacitação como alavanca primordial da produtividade. “No ranking mundial de competitividade, O Brasil está bem atrás, mesmo tendo passado por um período brilhante de crescimento do PIB. A questão é a falta de formação na base”, alerta. Na visão dele, o pouco investimento no capital humano acaba fazendo com que o País tenha pequenos ciclos de crescimento, seguido de crises. “Existe saída, mas ela passa pela capacitação e aumento da produtividade.” Trazendo essa questão para a área de gestão de clientes, Lucas Mancini, presidente da Voxline, disse que a mão-de-obra chega cada vez mais despreparada. “Me preocupa essa questão do capital humano. Não vejo nada sendo feito para mudar o atual quadro. Todos sabem que para o País crescer é preciso inovar, mas isso só vem com capacitação.”
Apesar do cenário não tão favorável, Sergio do Monte Lee, managing partner da Maksen para América Latina, com base na vivência em diferentes continentes, tem uma opinião um pouco diferente. “Estou menos pessimista. O que vejo é um Brasil ainda forte, com muitas oportunidades de negócio.” Como exemplo, ele cita a unidade brasileira da empresa que tem projeção de ter o maior crescimento entre todas as operações. “Estamos atravessando um momento difícil, mas o País tem fundamentos e capacidade de passar por essa fase”, acrescenta. Na mesma linha, Mancini também coloca que há muitas possibilidades para o Brasil, pois tem recursos e capacidade, resta saber ativar todos esses fatores. “O começo do próximo ano será decisivo para saber o que vai acontecer com o Brasil nos próximos quatro anos”, sentencia.
Tempo de inovar!
É preciso investir na formação de uma cultura de inovação para que o Brasil consiga um maior desenvolvimento
Por mais que tenha aumentado as atenções à inovação, essa ainda é um desafio para as empresas brasileiras. Um dos principais obstáculos é a falta de uma cultura. O que fazer, então? O presidente da Nutrimental e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fiesp, Rodrigo Loures, é enfático ao afirmar que é preciso que se crie um cenário de incentivos. Ou seja, é preciso que se invista mais nas empresas jovens, já que muitas vezes são elas que trazem novidade ao mercado. Na visão do executivo, é necessário que se cultive e potencialize ecossistemas regionais de inovação, pois se sabe que não há cenários positivos de inovação em todo o Brasil, mas há células que têm condições para inovarem. “É preciso pensar nessas empresas, caso contrário o país não irá se desenvolver”, ressalta. Da mesma forma, devem existir ainda, de acordo com o presidente, políticas públicas que favoreçam o empreendedorismo tecnológico.
Sem contar que tais ações são uma necessidade para cuidar melhor das vocações no mercado, já que as empresas ainda possuem o costume de ter atenção ao incentivo somente no nível interno, utilizando próprio conhecimento, investimento e colaboração. É por essa razão que na Nutrimental, Loures implementou um projeto de open innovation, destinando recursos para a promoção de ideias, projetos, processos, pesquisas e outras estratégias. “A inovação ainda ocorre na empresa, mas aproveitamos de vocações externas”, explica. Assim, a empresa convida outras empresas para desenvolverem seus projetos. “Nós, enquanto empresário, podemos e devemos desenvolver duas dimensões: a cidadania empresarial, que é mobilizarmos para oferecermos melhorias no ambiente de negócios; e ter políticas públicas que favoreçam todos aqueles que desejam investir e desenvolver no Brasil. Cenário que hoje não temos”, finaliza.
Inovar é crescer
Essencial para os negócios, processo não é fácil, com muitos obstáculos pelo quais é preciso passar
Após a retomada da democracia, o Brasil passou por um período com índices de alta inflação, o que prejudicou a capacidade de planejamento de muitas empresas. Por muito tempo, só era possível se programar para o curto prazo, pois o cenário era instável. A situação começou a se transformar em 1994 e, desde então, o país se encontra em um processo de se desfazer da má experiência passada e, assim, formar uma cultura de inovação. Esse foi o cenário traçado por Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP, que vê também no avanço das novas tecnologia uma oportunidade para que esse cenário se amplie.
Tanto que esse desenvolvimento tecnológico foi fundamental para o surgimento e desenvolvimento de muitas empresas, como Netshoes, 99Táxis e MercadoLivre. Porém, sempre com muitos desafios. “Inovar é duro. Há um cenário hostil para quem está procurando coisas novas e investir”, afirma Paulo Veras, presidente do aplicativo de táxis. Mas esse processo difícil não foi impossível. “Nos primeiros seis meses da empresa saíamos às ruas para conversar com os taxistas, saber suas opiniões, mostrar o produto e cadastrá-los. Foi preciso muita resiliência”, conta. O resultado é que de janeiro de 2013 até hoje, foram 80 mil taxistas cadastrados. Somente em São Paulo, o aplicativo está presente em 80% da frota. Ao todo, são um milhão de corridas ao mês.
Da mesma forma como foi trabalhoso para Veras convencer os taxistas a participarem da ferramenta, para o Netshoes foi preciso fazer com que os consumidores acreditassem que era possível comprar tênis e artigos esportivos pela Internet, sem experimentar. Desafio vencido por meio da filosofia da empresa de ter sempre o cliente como orientação. “Todas as nossas inovações são focadas nele”, diz o presidente Marcio Kumruian. Quem também acompanhou o crescimento do mundo virtual foi o MercadoLivre. Criada há 15 anos, a empresa tinha um objetivo simples de fazer com que consumidores vendessem para consumidores, só que apenas 0,5% da população brasileira, na época, estava conectada. Hoje, com quase todos possuindo acesso à Internet, a empresa expandiu: passou de C2C para a opção de também ser B2C, sem contar os outros serviços que passou a oferecer. “A gente vem montando um sistema em prol do varejo on-line e a inovação faz parte do espírito da empresa, desde a criação”, afirma Helisson Lemos, presidente do site.
Inclusive, a inovação não serve apenas para uma empresa crescer, mas também para fazer com que ela ajude as empresas a se desenvolverem, como é o caso das soluções da Avaya. Segundo o strategy service managing direct das Américas da empresa, Carlos Bertholdi, o objetivo da empresa é que seus clientes se diferenciem no mercado, por meio de suas tecnologias, permitindo que inovem. “Como podemos ver, os problemas brasileiros podem ser oportunidades”, completa Valter Pieracciani, sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, moderador do painel. “Inovação muda a cultura. Temos que acreditar nisso e não podemos parar.”