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Securitização: ameaça para a indústria de cobrança?



Efeito colateral do aumento do crédito no Brasil, a prática de securitizar, ou melhor, vender créditos inadimplidos, virou parte das estratégias para o tratamento de créditos vencidos ou de difícil recuperação. Atividade comum em mercados mais desenvolvidos inicia-se no Brasil, principalmente, por meio das vendas pelas instituições financeiras de grandes carteiras de créditos vencidas, incluindo os massificados e comerciais. Os maiores volumes, estimados em mais de R$ 25 bilhões em valor de face, foram transacionados entre 2006 e maio de 2008. E vem mais por aí, com o total de operações previstas no último trimestre de 2008 que irá superar R$ 10 bilhões em valor de face.

As razões para que essas vendas ocorram com mais freqüência são várias. Entre outras, pode ser citada a importância dos titulares dessas carteiras monetizarem ativos problemáticos, otimizando o uso do capital, ou racionalizar os recursos humanos para focar na criação de novas operações. Existem também motivações do tipo fiscal quando a cessão envolve tipos de créditos vencidos que não tenham sido baixados a prejuízo pelo vendedor. Ademais, se pensarmos que a recuperação de crédito com o auxílio de ações legais no Brasil ainda pode ser demorada, custosa e de resultados imprevisíveis, a venda de posições encalhadas representa para qualquer credor uma forma complementar de recuperação e transferência de riscos a terceiros.

Entre os vendedores encontramos não somente bancos, mas administradoras de cartões de créditos, financeiras (crédito direto ao consumidor e veículos), empresas de varejo, de telefonia e indústrias com grandes carteiras encalhadas. As vendas estão ocorrendo quase trimestralmente, no caso de alguns vendedores, gerando um pipeline de operações muito interessante.

Além de surtir resultados imediatos para os vendedores, essas operações têm impactado o status quo das agências de cobranças e dos escritórios de advocacia, que cuidavam dessas carteiras. Assim, os compradores retiram-nas de algumas das agências que as administravam e definem metas mais ambiciosas de recuperação para outras, escolhidas para contribuir com o investidor no processo de recuperação.

Alguém duvidava que isso fosse acontecer? Esse tem sido o percurso natural de outras economias nas quais, com o aumento do volume do crédito, surgiram oportunidades para todo mundo, inclusive agências de cobranças e investidores em carteiras de créditos problemáticos. Ademais, os investidores, por default, procuram os operadores mais eficientes, já que seu dinheiro custa caro e o payback desses projetos de investimentos é bem calculado e deve ser atingido. Caso contrário, gera prejuízo.

Deve-se deduzir que esse fenômeno veio para ameaçar as agências de cobranças? Alguns afirmam que sim. Outros, mais antenados com o mundo globalizado e com as mudanças dos cenários macroeconômicos e competitivos, sabem como tirar proveito dessa tendência. Há, por exemplo, agências de cobranças tecendo joint ventures com investidores, com o objetivo de prestar serviços se houve compra de carteiras. Outras foram além, ao investir diretamente na compra de carteiras ou ao capitalizar com a ajuda de investidores.

A verdade é que essa tendência de vendas de carteiras veio para ficar, o que gera oportunidades incontestáveis para a indústria de cobrança diversificar a própria fonte de recursos e também traz vantagens para os mais preparados saírem do funil estratégico de simples prestadores de serviços de terceirização da cobrança, transformando-se, eles mesmos, em investidores.

Salvatore Milanese é sócio da KPMG Corporate Finance Ltda. na área de reestruturação de empresa e transações envolvendo créditos inadimplidos. E-mail: [email protected]

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