Da mesma forma em que o artista deve ir onde o povo está, as empresas devem acompanhar os clientes. É exatamente o que está acontecendo com os minimercados. Há muito presentes na vida dos brasileiros, quando as compras somente eram realizadas nos armazéns e quitandas, as lojas de bairro acompanharam a crise desse tipo de estabelecimento com a chegada e ampliação das redes de supermercados, passando para os hipermercados. Nunca deixando de existirem, os minimercados passaram então a serem alternativas para as compras mais rápidas ou de emergência. Agora, acompanhando o novo perfil do consumidor brasileiro, lojistas veem novamente o momento de ascensão, resultando ainda em uma transformação no varejo: mais do que se tornarem a principal escolha dos clientes, vêm obrigando que grandes empresas também se modifiquem para não perderem espaço no mercado.
A população, principalmente nas grandes cidades, começou a crescer de forma muito rápida, espalhando-se pelas periferias, ao ponto em que ir ao centro para realizar suas compras começou a se tornar uma prática inviável, dazendo desse um dos motivos para os pequenos estabelecimentos irem atrás dos clientes, como aponta Antônio Carlos Giuliani, especialista em administração de varejo. “Verifica-se uma alteração no varejo uma vez que os grandes centros comerciais, em virtude do crescimento da população, começam a residir em bairros mais distantes do centro tradicional do comércio, fazendo com que o varejo caminhe para onde os potenciais consumidores se encontram, sendo uma oportunidade para o surgimento de lojas pequenas, em específico também os minimercados”, reflete.
Embora esteja ocorrendo com mais força agora, essa mudança não é de hoje. Esse processo vem desde o começo de 2000, segundo Giuliani. Período em que a economia começou a se estabilizar, seguida da baixa inflação, iniciando, assim, um novo hábito de compra: o cliente não necessita mais realizar as grandes comprar do mês e fazer estoque na sua casa, uma vez que pode se sentir mais seguros com os preços. Ao mesmo tempo, com o avanço da tecnologia e de uma vida mais moderna e conectada, esse consumidor também passou a pedir por mais agilidade e comodidade nas tarefas do mundo real. “Nessa perspectiva, os minimercados se deparam com fatores econômicos e sociais que favorecem seu desenvolvimento”, acrescenta o especialista.
Da mesma opinião, Sérgio Molinari, sócio diretor de foodservice da GS&MD – Gouvêa de Souza, analisa que há uma convergência de razões para o crescimento significativo. “Por um lado, este formato de varejo é mais adequado às demandas do cliente atual de alimentos; do outro, os pequenos autosserviços vêm se aprimorando para atender melhor o seu cliente e, aliás, atrair novos clientes.” Ele explica, ainda, que tal expansão é fruto de um “encontro feliz” dos minimercados com os clientes, já que o novo perfil de consumidor pede por um tipo de varejo que esses estabelecimentos podem oferecer e suprir suas necessidades.
CONFLITO POR ESPAÇO
Junto ao fato de que conseguem se moldar àquilo que o público deseja e possuem um atendimento diferenciado que os atrai, o varejo de bairro soube aproveitar os erros cometidos pelas grandes redes para conquistarem mercado. “Tem crescido, e muito, a participação dos minimercados, por conta das falhas cometidas pelas grandes, as oportunidades nas localidades de vizinhança, uma maior exigência por parte dos consumidores e pela busca por colaboradores mais treinados e a especialização das empresas de consultorias”, conta Ricardo Bicov, diretor comercial da Qualivar Consultoria de Varejo.
Porém, vendo que poderiam perder resultados, as redes de supermercados começaram a se preocupar com a expansão das lojas menores e como solução passaram a migrar também para esse modelo de estabelecimento. “Para as grandes redes, apostar nos minimercados é, antes de tudo, uma maneira de reaver clientes que começavam a migrar para o comércio de bairro. Os supermercadistas viram nos minimercados uma oportunidade de atender a determinado público, de forma a aumentar seus lucros, investindo em uma estratégia de marketing para fidelizar os clientes”, complementa Carlos Corrêa, superintendente da Associação Paulista de Supermercados, Apas. O reflexo é uma disputa por espaço e atenção entre as lojas de bairro pertencentes às grandes empresas e aquelas que já eram tradicionais ou familiares. A oportunidade vista pelos supermercadistas, citada por Corrêa, está também nas vantagens que a estrutura de uma loja menor oferece. “Atuar com menores espaços significa redução de custos e estoques que podem girar mais rápido. Além disso, esse formato possibilita a capilarização da presença da marca em muito mais locais e, portanto, ocupação de territórios”, conta Paulo Ancona Lopez, diretor da Consultoria Vecchi Ancona – Inteligência Estratégica.
Ambos os lados possuem desafios e vantagens que os favorecem. De um lado, as grandes redes possuem experiência, organização, infraestrutura, inteligência de mercado, automatização. Por outro, as lojas independentes ou de pequenas redes familiares prometem um avanço contínuo. E o resultado do conflito é uma maior vantagem ao cliente. “O que deveremos ver nos próximos anos é o cliente se beneficiando de uma melhoria do formato. Há inúmeras iniciativas de desenvolvimento e profissionalização deste pequeno empresário, ao lado de uma crescente tomada de consciência dessa necessidade para a sobrevivência”, completa o executivo da GS&MD – Gouvêa de Souza.