Uma nova realidade

Autor: Felipe Macedo
De forma bem resumida, o caminho de um produto até ser adquirido pelo consumidor possui dois atores principais: a indústria responsável pela sua fabricação e o varejo que faz a venda ao público-alvo. Contudo, de uns tempos para cá, houve uma mudança importante nessa cadeia. Os fabricantes descobriram o impacto que a venda direta de seus bens ao usuário final possui na rentabilidade do negócio – o que só foi possível graças ao desenvolvimento tecnológico dos últimos anos e a capacitação de profissionais para traçar as melhores estratégias de atuação nesse canal.
A venda direta nada mais é do que uma modalidade em que a indústria disponibiliza seus produtos diretamente aos consumidores, sem a necessidade de intermediação. É uma tática comum em um cenário de instabilidade econômica como o que o Brasil enfrenta atualmente. Levantamento do IBGE indica que a indústria nacional teve um leve crescimento de 0,6% em 2018, a primeira alta no indicador desde 2013. Contudo, a mesma pesquisa aponta que o rendimento médio real caiu 1,7% e os custos industriais cresceram 8,8%, de acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Portanto, não chega a ser surpreendente a busca por modelos alternativos para melhorar as vendas.
Até pouco tempo atrás, era praticamente impossível para as indústrias venderem seus produtos diretamente ao consumidor. O processo era caro devido às inúmeras despesas envolvidas, como logística ineficiente e que não atingia a capilaridade necessária. O advento do e-commerce mudou esta situação. A chegada e consolidação do digital, com plataformas que automatizam procedimentos e facilitam a tomada de decisão, barateou os custos, simplificou o modelo e permitiu que essas empresas não só ampliassem a atuação de sua marca, mas conseguissem aumentar suas vendas.
O segundo ponto foi justamente melhorar a qualificação humana para realizar essa transformação digital sem qualquer prejuízo para o negócio – afinal, não basta ter tecnologia de ponta se não souber utilizá-la. Qualquer recurso implementado deve colocar o homem no centro das atenções, seja para identificar o perfil dos clientes e facilitar a venda direta, auxiliar os revendedores, engajar os usuários, aumentar a eficiência logística, etc. Ferramentas mal implementadas ou que não resolvem problemas reais das pessoas podem burocratizar ainda mais o processo e, em alguns casos, atingir o efeito contrário.
Com esses dois pontos, o fabricante vai perceber que a venda direta não significa quebrar a cadeia de distribuição e varejo. As indústrias podem, por exemplo, utilizar o canal de venda online para vender os produtos de sua marca e, com esta tecnologia, direcionar a operação para representantes que possuem presença física mais próxima ao consumidor. Assim, conseguem realizar tudo o que o omnichannel tem a oferecer, como a retirada do item em loja, a manutenção do revendedor como parceiro estratégico e a garantia de que uma venda não será perdida por falta de estoque local.
Vender diretamente ao consumidor final já é uma realidade – indústrias que não estão preparadas para isso podem ser consideradas atrasadas. Existem inúmeras estratégias para fazer essa transformação sem ignorar a sua cadeia atual, que continua importante para a rentabilidade do negócio. O segredo é aproveitar a tecnologia para incluir de forma transparente o revendedor, fortalecendo a relação e os laços locais com os consumidores. Para isso, reveja sua estrutura interna, sua cultura e seus líderes: a partir de agora, o cliente final também se torna um importante player no jogo das indústrias.
Felipe Macedo é sócio-fundador da CoreBiz.

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Uma nova realidade?

Depois dos últimos acontecimentos, como os rolêzinhos, muito se têm discutido se as empresas realmente reconhecem o poder de consumo dos jovens das classes C e D, que cada vez mais estão em busca de suprir seus desejos nas lojas, adquirindo produtos que vão desde roupas, tênis, até eletrônicos.  Na visão de Davi Bertoncello, sócio-diretor executivo da agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research, elas estão conscientes do potencial desses consumidores, no entanto algumas preferem fechar os olhos para essa nova realidade. E, apesar de buscar um diálogo, ainda não se prepararam totalmente para atender esses jovens. “Este preparo virá em um médio/longo prazo, analisando erros e acertos do presente. Cada dia mais, esses potenciais consumidores estão batendo na porta das empresas e cobrando uma atitude, uma comunicação diferenciada e direta”, afirma o diretor. 
O gosto pelo imediatismo, fartura e pelo desejo do esplendor é como uma nova linguagem que visa quebrar barreiras sociais, segundo Bertoncello. “Hoje em dia, por exemplo, muitos deles já não sonham em ganhar muito dinheiro para poder trocar de bairro e morar em locais de alto padrão. Pelo contrário, eles querem ter o poder aquisitivo dos jovens classe A, mas continuar sua vida nos locais em que vivem”, explica. Se comparados às demais classes, esse consumidor se caracteriza por começar a trabalhar mais cedo que os outros em busca de uma independência financeira, e aprendem a usufruir de seus esforços. Além disso, Bertoncello acredita que a falta de entretenimento para esse perfil, torna as visitas às lojas cada vez mais comuns, como um momento de lazer.  “O consumo traz para a vida desses jovens uma sensação de exaltação, uma experiência que o deixa com o sentimento de ter ascendido um degrau na sociedade”, afirma.  
Dentro disso, mesmo com os últimos acontecimentos, o diretor ressalta que esse não é um fenômeno novo, ao contrário.  Há muito tempo surgem cada vez mais exemplos de pessoas das classes c e d aumentando seu poder aquisitivo. “No caso do rolêzinho, a cena musical nas principais metrópoles do sudeste tem no funk o gênero mais popular há bastante tempo, etc”, exemplifica. Nesse sentido, para atender bem esse consumidor é preciso entendê-lo e isso só é possível com proximidade. “Um canal bastante interessante e muito forte no mercado popular é o porta a porta, o face a face. Além de adotarem estratégias efetivas e diferenciadas de venda e de comunicação, reconhecendo que essas iniciativas compensam”, conclui.

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Uma nova realidade



A gestão de clientes tem passado por desafios ao longo do tempo devido ao avanço das tecnologias da informação e comunicação. Isso porque a intensidade da adoção da TI na sociedade é evidenciada, em parte, pelos gastos e investimentos realizados em produtos e serviços como telefonia móvel, computadores, televisões digitais, Internet dentre outros, além de toda a infraestrutura necessária para tornar realidade esses avanços.

Para exemplificar, o serviço de telefonia móvel registrou mais de 242,2 milhões de assinantes no Brasil em dezembro de 2011, segundo a Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações. Nesse mesmo período, o IBGE , Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, estimou uma população de 195,5 milhões de habitantes. De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-Br), em 2009, 65% das empresas no país com 10 ou mais funcionários têm utilizado celulares corporativos, sendo sua presença mais significativa associada positivamente ao tamanho da empresa. Em empresas com mais de 250 funcionários, o uso desses aparelhos chegam a representar 90%. O comitê revelou também que no país, aproximadamente, 36% dos domicílios possuem microcomputador e nas empresas esse índice é de 97%.

Mais, no Brasil, o volume de transações entre empresas no ambiente de comércio eletrônico, relações business-to-business (B2B), representa no país 65,3% e entre empresa e consumidor, relações business-to-consumer (B2C), atinge 33,0%, de acordo com a pesquisa de Comércio Eletrônico no Mercado Brasileiro¹. As vendas realizadas na Internet² registraram R$15,0 bilhões de reais, em 2010. Tal cifra representa um crescimento superior a 40% em relação ao ano anterior.

Esses números, no mínimo, permitem uma conscientização a respeito do caminho a ser traçado pelas empresas. E a gestão de clientes merece a devida atenção. São eles que avaliam a posição competitiva de uma empresa, seus produtos e seus serviços. Agora com mais força, em razão do surgimento das redes sociais, segundo Erik Qualman, autor do livro “Socialnomics: Como as mídias sociais estão transformando a forma como vivemos e fazemos negócios”.

As relações entre empresas e clientes parecem sofrer novas transformações. Devido a isso, as redes sociais estão na pauta das empresas de alguma forma e não há como escapar desse momento. Nas palavras de Qualman, “as empresas não têm escolha se participam ou não das mídias sociais, a escolha é em torno do quão bem irão participar.” Essa declaração parece estabelecer o horizonte dos desafios que nortearão os esforços que as empresas deverão direcionar para a gestão dos clientes.

Brivaldo A. Marinho é pesquisador e analista em tecnologia da informação.



¹ Pesquisa FGV-EAESP de Comércio Eletrônico no Mercado Brasileiro, 13ª edição, 2011. Programa de Excelência em Negócios na Era Digital (NED) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (GVCIA) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), Fundação Getulio Vargas.

² Registro da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

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