A insustentável leveza de ser sustentável



Autor: Enio Klein

Em tempos de aquecimento global, uma ação toma fôlego neste início de ano: a economia de papel. Sob este pretexto, algumas empresas eliminaram o envio de extratos e boletos de cobrança, substituindo-os por versões em meio eletrônico. Embora algumas ainda mantenham as duas formas e deixem o cliente optar, a maioria simplesmente suspendeu o envio pelo correio.

No meio deste discurso, há uma contradição. A maior parte das pessoas ainda efetua os pagamentos em agências físicas e, portanto, precisa imprimir os boletos. E, mesmo os poucos que podem e desejam resolver via internet banking, ainda precisam dos recibos impressos para eventuais comprovações. Logo, o argumento não tem nada a ver com sustentabilidade e parece-me mais uma falácia empresarial para transferir responsabilidade ao cliente e reduzir custos. Com essa nova dinâmica, a despesa das impressões é transferida aos clientes.

Um exemplo recente e interessante é uma propaganda televisiva, usado por um banco para falar do documento eletrônico, onde um bebê se diverte quando o pai rasga o papel que aparenta ser um extrato. Mas por que será que o bebê ri?  Talvez porque seja engraçado ver a cara do pai rasgando um documento de altas tarifas. Mas talvez ria ainda mais, ou chore de raiva, ao se dar conta de que o pai, em uma agressão à natureza, será obrigado a gastar papel e a tinta, pois o banco, sustentável, não quis fazê-lo.

Não sou e jamais poderia ser contra a cobrança eletrônica, mas, se é eletrônica, o pagamento e a comprovação também precisam ser. O que adianta este discurso, se o processo é metade uma coisa, metade outra?  Os executivos precisam primeiro olhar para dentro e verificar quanto desperdício ainda existe nos procedimentos de sua própria empresa e o quanto precisam melhorar os processos, antes de virem a público e transferir a responsabilidade de salvar o planeta ao cliente.

Além de que, se formos ver a cobrança tradicional, a contradição pode ser ainda mais irônica. O  que precisamos receber é na maior parte dos casos uma folha A4, impressa de um lado só ou às vezes dos dois, conforme o caso. A questão a discutir é porque junto com o documento recebemos três, quatro ou até mais folhas em papel couche 95, brilhante, colorido, impresso dos dois lados com propaganda. Não posso afirmar, mas é possível que, se optarmos por não receber mais os documentos em papel, continuaremos a receber a propaganda, pelas duas vias, já que isto faz parte do business como gostam de dizer. Extrato e cobrança são tratados como desperdício de papel e custo. Propaganda é investimento.

Concordo que precisamos cuidar do planeta, mas com a seriedade que o assunto merece e não com bravatas que apelam para sensibilidade do cliente, mas que não representam nada de efetivo.

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A insustentável leveza de ser sustentável



A brincadeira com o  livro do Milan Kundera, tem relação com a última novidade do marketing de boa parte das empresas. Sob o pretexto de serem empresas muito preocupadas com o meio ambiente e com o uso exagerado de papel, tratam de eliminar o envio de extratos e boletos de cobrança para o endereço de seus clientes, a revelia da vontade dos mesmos, substituindo-os  por envio de cópias em meio eletrônico.

 

Ora, esta ação parece-me mais uma falácia  utilizada pelas empresas para transferir a responsabilidade unilateralmente para o cliente. A responsabilidade de cobrar é do fornecedor, a do cliente de pagar. Logo é obrigação sim do fornecedor garantir que o documento para pagamento chegue ao cliente a tempo e a hora para que o mesmo possa efetuar o respectivo pagamento. Um boleto bancário pode ser pago em qualquer agência de qualquer banco que faça parte do sistema de compensação. O cliente pode pagá-lo obviamente na agência de sua preferência ou pelo internet banking, se for esta o seu desejo ou se ele tiver acesso ao internet banking.  Ora, que me desculpem estas instituições, a maior parte das pessoas precisa imprimir o boleto para levar na agência e pagar. Neste caso quem fere a ecologia é o cliente não o banco???  É  claro que o argumento não tem nada a ver com sustentabilidade, mas com economia nos custos de impressão. Economia esta que não é transferida para o cliente, que ao contrário, continua  a pagar tarifas cada vez mais altas. Isto quando sem contar que em muitos casos os custos de impressão são transferidos para as empresas onde os clientes destes bancos trabalham.

 

Um outro exemplo recente e interessante é o filminho  do bebezinho  que alegremente se diverte rindo gostoso quando o pai rasga o papel. Um banco resolveu usá-lo  para falar do extrato eletrônico. Mais um exemplo de sustentabilidade insustentável. Quanto ao filminho apresentado, deve ser engraçado alguem ver o pai , rasgar um extrato pelo qual se paga tarifas as vezes exorbitantes.  E achará mais engraçado ainda quando descobrir que o pai, ao receber o tal extrato por e-mail, terá que.  como todos nós, imprimí-lo para que possa conferir, pois analisar este documento na tela pode se tornar tarefa cansativa demais em especial para aqueles que utilizam óculos de leitura.  A gargalhada final virá quando o bebezinho num acesso quase incontrolável, se der conta que o pai em uma agressão à natureza, foi obrigado a gastar papel e a tinta – pela qual paga, e caro –  que o banco sustentável não quis gastar. Não porque respeite a natureza como quer nos fazer acreditar,  mas pelo custo que pretende eliminar transferindo-o, mais uma vez, de forma unilateral, ao seu cliente.

 

Pensem nisto e deixem seus comentários!

 

Até a próxima.

0 comentário em “A insustentável leveza de ser sustentável”

  1. MUITO BOM! Uma sociedade não pode viver em parte o mundo digital e as evoluções tecnológicas. Perfeito, muitas vezes por ter a conta em meio digital, imprimimos várias vezes. Ã% isso ai meu caro, â?ocada um no seu quadradoâ??, eles cobram e nós pagamos!

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