A FORÇA DO INESPERADO
Quando foi a útima vez que você surpreendeu em seu trabalho? Não, não estou falando daquela ocasião em que ligou para o concorrente, pensando que fosse um cliente, e falou da promoção especial que a empresa estava preparando para o mês que vem. Quem não erra? Falo das surpresas positivas. Algo que fez o seu líder parar atônito diante de você e sussurrar entredentes: “Até que enfim alguém aqui saiu da toca!”.
Nunca mais me esqueci de um fato ocorrido nas Indústrias Gessy Lever. Há muitos anos. Não vou dizer quantos para não me entregar. Na época, eu era auxiliar de escritório e paquerava as meninas que perfuravam cartões para os computadores que eram do tamanho de uma sala. Bem, havia um rapaz que trabalhava de desenhista industrial. De repente, ele entra na sala do diretor de marketing e apresenta uma idéia. Ele propôs que os pacotes do sabão em pó Omo ostentassem, no verso, um quebra-cabeças. A dona de casa iria comprando os pacotes e seus filhos montando o quebra-cabeças. No final, formaria a imagem completa do mapa mundi. Entretenimento, aprendizado e…lucros para a organização.
O rapaz já havia desenhado o quebra cabeças e imaginado a seqüência toda. Resultado: a sugestão foi aprovada. E aquela simples idéia, vinda de alguém que nem fazia parte do departamento responsável, alavancou as vendas do Omo, desbancando o sabão em pedra. Em pouco tempo, aquele rapaz se tornou gerente de marketing.
Eu também ascendi rapidamente naquela empresa. De auxiliar de escritório cheguei a gerente. Depois, como jornalista do Estadão, fui de “foquinha” a assessor da Diretoria de Redação. E sempre foi assim. Apenas porque sempre gostei de dar idéias. Funcionais, realistas, voltadas para aumento de resultados. As sugestões não precisam ser, necessariamente, mirabolantes ou grandiosas. Podem ser, por exemplo, um relatório que faltava, ou um relatório desnecessário que pode ser simplesmente eliminado, um corte de custo qualquer, uma frase que faltava no script do operador, um item qualquer que acrescente para ao cliente, um detector de mentiras para o chefe…
Volto ao que afirmei em um artigo anterior: a pessoa que quer apresentar um alto índice de empregabilidade (capacidade de não ficar muito tempo desempregado), precisa apresentar competências técnicas e resultados no currículo. As primeiras se consegue aprendendo. Os segundos, a gente conquista principalmente com criatividade. Só quem está focado no negócio, como se fosse o seu próprio empreendimento, investe tempo em pensar. E ter idéias. Surpreendendo aquela pessoa que só esperava de você pedidos e reclamações.
Certa vez, no cinema, assistimos ao seguinte diálogo, de uma garota para outra:
—Como você é alegre, divertida, está sempre ligada e positiva. Por quê?
—É graças ao filme A Sociedade dos Poetas Mortos.
—Ah, eu também assisti…
—Pois é, um filme tão chato, tão chato que jurei a mim mesma nunca mais desperdiçar meu tempo daquele jeito.
O cinema caiu na gargalhada. Por causa do inesperado da resposta. É a força do inesperado. O imprevisto é o que nos faz rir, chorar, nos encantar. Quase todas as gags (situações cômicas) são baseadas no inesperado.
Portanto, que não sejamos previsíveis. Surpreender e encantar deveria ser o primeiro item da agenda de todos nós todos os dias. Mas isso só é possível para um tipo de pessoa: a que tem foco no sucesso – o próprio e o dos outros. E se você trabalha numa organização que rechaça as idéias sem ao menos analisá-las com carinho, troque de empresa. Ela não merece alguém como você.
Publicado originalmente na revista
Cliente S/A de maio/2005
(autoria: Claudir Franciatto)