Vamos para a nuvem?

Há pouco mais de um ano, o portal Callcenter.inf.br realizou uma série de entrevistas com diversos fornecedores para saber o grau de adoção da tecnologia em cloud nas operações de contact center no Brasil. Na época, a conclusão que se chegou é de que a nuvem trazia sim grandes vantagens, porém ainda tinha uma presença tímida no mercado, que a via com muita desconfiança. Passado esse período, podemos dizer que houve uma evolução na visão dos profissionais do setor, mas na prática ainda temos poucas operações dentro do modelo de cloud. “Hoje, as empresas são mais receptivas à ideia de soluções de Contact Center em nuvem. E me refiro apenas a serem mais receptivas à ideia, não a colocar isso em prática. Mas, evidentemente, isso já é um passo na direção acertada”, comenta Julio Moretti, diretor de inovações da G4, revelando que, nesse ano, já percebeu um aumento de confiança do setor em soluções desse tipo. “Hoje, mais do que a 12 meses, os contratantes estão abertos a ouvir sugestões de plataforma de contact center cloud based.”
Tanto que vendas de SaaS devem saltar de US$ 16,6 bilhões, em 2010, para US$ 53,6 bilhões, em cinco anos, de acordo com um recente relatório do IDC. Esse valor irá representar, em 2015, 20% de toda a oferta de software no mercado mundial. “Veremos, nos próximos anos, uma crescente adoção de TI-as-a-Service, com o modelo on-premise sendo substituído aos poucos pela cloud”, comenta Paulo Bonucci, country manager da Verint EIS. Ele coloca, inclusive, como um caminho sem volta. “É um momento emocionante da indústria nesse setor. A nuvem traz capacidades avançadas prontamente disponíveis para empresas de todos os tamanhos, sem a necessidade de um grande investimento”, completa Doug Whitaker, gerente global de vendas de produtos estratégicos da Aspect, acrescentando que os consumidores são os mais beneficiados, com “melhor serviço com interações e comunicações conduzidas da forma como eles preferirem”.
Outro estudo recente, esse elaborado pela Frost & Sullivan, aponta que 52% das empresas pesquisadas afirmaram ter muito interesse na adoção de cloud nos próximos 12 meses. Isso porque, segundo Carlos Castro, diretor de marketing de produtos da Unify, hoje vivemos em um mundo em que a tecnologia torna os comportamentos efêmeros, por sua vez estes comportamentos fazem as tecnologias ficarem efêmeras. “Temos, portanto, um círculo de inovação tecnológica com ciclos de duração que são mais curtos. As empresas já sabem que precisam de tecnologia para ficarem competitivas e a maneira de combater a efemeridade tecnológica e ter acesso a tecnologia atualizada será cada vez mais por meio de modelos de entrega em nuvem”, explica. Também vem auxiliando nesse processo de mudança de visão do mercado são os ganhos de quem já tem investido na nuvem. “Essa mudança é um ciclo de confirmação das vantagens exclusivas da nuvem, que começa a ter mais visibilidade e se tornar mais reconhecido pelos gestores de TI. Diminuiu a desconfiança quanto aos requisitos básicos, como segurança e disponibilidade”, garante Ricardo Gorski, diretor geral da Interactive Intelligence.
BARREIRAS
Do outro lado, um dos motivos para a timidez das ações das empresas em direção a nuvem é a falta de uma infraestrutra que garanta qualidade na transmissão de dados de voz. “Ainda é necessário um grande investimento para a computação em cloud fornecer uma qualidade de voz aceitável”, avalia Fernando Lujan, diretor de TI da Total IP. Mas há boas expectativas, segundo o executivo, já que houve a preparação de ideias e o plantio de sementes podendo melhorar a qualidade da infraestrutura de dados no Brasil. Um exemplo dado por ele é a realização do leilão da faixa 4G, permitindo às antenas um maior alcance e diluindo os custos da implantação desse serviço. “Ainda não chegou o momento da voz ir para nuvem, mas acredito estar bem próximo.”
Até porque, para os contact centers, a disponibilidade e estabilidade dos links são fundamentais para a performance da operação. “Por conta disso, o receio das empresas na adoção de tecnologias em cloud ainda permanecem, em especial quando é necessário o tráfego de voz na nuvem.” Para Oliveira, o modelo cloud não é um modelo ruim, mas é preciso entender como funciona, de fato, em nosso país. Nos Estados Unidos, por exemplo, esta é uma realidade funcional há tempos. “Acreditamos que quando tivermos no Brasil uma infraestrutura de telecomunicação mais robusta, estável, abrangente e com preços mais atrativos, a exemplo dos serviços oferecidos em países como os Estados Unidos e alguns países da Europa e Ásia, o principal obstáculo na adoção do cloud estará superado”, pontua.
Outro ponto que vem adiando a migração, segundo Rubens Waberski, gerente de pré-vendas da Avaya, é a falta de conhecimento das funcionalidades e atributos desse modelo de oferta. “Existe o mito sobre um possível risco de transferir as informações empresariais em uma estrutura compartilhada”, comenta. Porém, ele destaca que as soluções estão evoluindo cada vez mais para incluírem funcionalidades nesse tipo de ambiente, permitindo, por exemplo, a divisão lógica da solução nos chamados tenants. Ao aliar estas funcionalidades com a tecnologia de virtualização de redes, o mercado começa a vencer a desconfiança inicial.
Na avaliação de Paulo Bonucci, country manager da Verint EIS, além do tema de infraestrutura “já bastante discutido”, uns dos grandes desafios é a adaptação do processo de gerenciamento de dados que não está mais sob controle da empresa. Apesar de continuar sob a responsabilidade da empresa, o gerenciamento de riscos, a privacidade e a segurança passam a ser feitos, também, pelo provedor de serviços da nuvem e isso exige mudanças na forma de realizar a governança de TI. “Uma boa governança é a chave para o sucesso de uma migração para a nuvem”. Um caminho é adotar um modelo híbrido, que implica na redução de custos e na resposta rápida às necessidade de crescimento do negócio, com flexibilidade sob demanda iniciando, assim, uma migração mais estruturada e planejada.
Apesar dessa insegurança presente no mercado, a expectativa de Gorski é que, cada vez mais, os aspectos positivos sejam reconhecidos pelo público em geral, com o modelo de implementação local reservado apenas àquelas companhias com restrições muito específicas ou políticas de negócio que determinem sua adoção. “Haverá, então, uma inversão de cenário. A implementação será exceção e este é um caminho natural, porque há anos as companhias já adotam sistemas em nuvem para CRM, gestão de recursos humanos, serviços financeiros, etc. Não há porque a comunicação não seguir pelo mesmo caminho”, sentencia o diretor geral da Interactive Intelligence.
E para você, qual o principal desafio para que a migração para a nuvem aconteça? Dê a sua opinião na enquete do Callcenter.inf.br.


Confira as outras matérias do especial:
Com ganhos para empresas e clientes, expectativa é que cresça a taxa de adoção da nuvem
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Apesar de ter boas opções de soluções, mercado ainda se sente inseguro com a nuvem
Na prática, adoção da nuvem ainda é tímida, mas empresas já estão mais receptivas à ideia
Adoção da nuvem ainda é pequena pelo receio de falha na transmissão de dados de voz

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Vamos para a nuvem?

Apesar da desconfiança que ainda ronda o tema, os especialistas colocam a tecnologia em nuvem como movimento sem volta para o mercado de outsourcing. Afinal, imagina ter on-line toda a infraestrutura de soluções. É com essa proposta que ela chega prometendo diversas vantagens. “É um modelo que só traz benefícios para as companhias que a adotam: baixo ou nenhum investimento de capital inicial na operação, completo ciclo de atualizações de produtos, monitoria total de infraestrutura de rede, conexões e hardware”, enumera Pedro Silveira, gerente de marketing da Interactive Intelligence para América Latina, acrescentando que a migração é um movimento sem volta.
“Há economia com gastos com atualizações de tecnologia, além do próprio equipamento de TI. No final das contas, as empresas poderão gastar menos com tecnologia e, portanto, melhorar suas margens, incrementar investimentos, manter-se atualizadas em suporte, pagar melhores salários e, em última instância, oferecer preços mais competitivos”, pondera Juan Manuel González, gestor industrial da equipe de comunicações empresariais da Frost&Sullivan. Ele identifica que o maior impacto da nuvem para o atendimento é do ponto de vista de como as novas tecnologias às quais as empresas terão acesso por meio da nuvem irão colaborar para melhorar o relacionamento com os clientes.
Entre as vantagens, o gerente de marketing de portfolio da Siemens Enterprise Communications, Thyago Taher, também aponta o fator da nuvem permitir o dimensionamento do time de atendimento praticamente em tempo real com relação à operação do cliente. Assim, operações que têm seus tamanhos constantemente modificados em razão do ritmo dos negócios podem rapidamente dispor de mais ou menos posições de atendimento conforme sua necessidade. “Outro ganho é o modelo financeiro envolvido: a tecnologia em nuvem permite que o cliente diminua seus gastos de capital (CAPEX) e os converta em gastos operacionais (OPEX). Além disso, toda a manutenção e eventual atualização da solução, no modelo em nuvem, cabe ao parceiro que hospeda essa solução, ou seja, o cliente não precisa mais se preocupar com isso e pode concentrar suas forças no seu negócio”, completa.
Outra promessa de ganho é o foco no core business. A partir do seu uso, os contact centers podem se preocupar apenas na entrega de resultados, segundo Alexandre Paiva, diretor de canais a alianças da Nice Brasil. “Um dos ganhos é que ele permite às empresas focarem no negócio ao invés do monitoramento e manutenção de softwares empresariais”, comenta. Se não bastasse, o diretor de relacionamento com cliente da VoxAge, Alberto Sampaio de Oliveira, acrescenta ainda o fato de facilitar a a implantação e adoção pelas empresas de canais alternativos de relacionamento, como web chat, e-mail e mídias sociais. Quem foi por esse caminho é a Light, distribuidora de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro. Todo atendimento por web chat e e-mail para os clientes de grandes contas e clientes comuns é feito utilizando a solução VOS Center em nuvem da VoxAge. “Durante o processo de negociação da oferta da solução, um dos requisitos estabelecido era que a solução deveria ser em nuvem, já que a empresa não queria ter custos adicionais de implantação de uma solução ´in-house´ e não pretendia disponibilizar seu pessoal técnico para suportar a solução”, conta Oliveira.
O modelo também facilita a adoção do home office. Nascida já dentro do conceito de nuvem, a Virtual Connection foi desenhada pautada para resolver um problema presente na época e hoje agravado de conseguir mão de obra qualificada e pelas condições de trabalho gerar uma qualidade de vida compatível com a função, eliminando os problemas dos grandes centros e diminuindo o turnover em detrimento do modelo atual. “Hoje com a expansão dos serviços de home office para sites remotos, temos como base o mesmo objetivo, ter preços mais competitivos para o mercado e melhores margens internas, ao ponto que conseguimos apresentar uma qualidade superior por atingirmos recursos humanos que antes não eram possíveis por meio do modelo atual mercado”, explica.
DESAFIOS
Apesar de se falar muito, a adoção ainda é pequena. Na avaliação González, nesse momento em que o mercado ainda está em desenvolvimento, é possível ver uma desconexão entre oferta e demanda. Ele explica que, se por um lado, vendors, parceiros e inclusive algumas operadoras já estão prontas tecnicamente para oferecer soluções e ferramentas de contactcenter na nuvem, por outro, os clientes ainda estão analisando e conhecendo os benefícios. “Ainda não existe um movimento grande em ver esse serviço como alternativa para o negócio. No entanto, esperamos que essa situação mude no médio prazo e que as empresas comecem a implementar soluções de cloud para contact center”, acrescenta.
Tanto que as empresas vêm recebendo a tecnologia com curiosidade e receio, de acordo com Fernando Lujan, diretor de TI da TotalIP. “Muitos ainda não confiam totalmente em uma estrutura em nuvem. Mas o mesmo fenômeno aconteceu há alguns anos com o VoIP e, hoje, essa tecnologia já está disseminada”, comenta. Essa desconfiança é justificável já que, segundo o executivo, a infraestrutura de redes ainda é precária em muitas regiões do país.  “Essa migração representa um desafio tanto para as operadoras de telefonia quanto para as empresas, que muitas vezes, precisarão adequar sua forma de trabalho e tecnologia”, conta.
Essa transição, na opinião de Taher, demanda certo tempo e maturidade do mercado. “Um dos principais desafios é a maturidade e até mesmo a adaptação de mentalidade dos gestores e tomadores de decisão das empresas. Ainda que estejam claras as vantagens intrínsecas de modelos de operação em nuvem, observo que existe certa resistência das pessoas com relação à idéia de que hardware e software de suas operações críticas estarão hospedados remotamente e sob tutela de um parceiro”, comenta o executivo, que acredita numa adoção intensa nos próximos anos.
O diretor executivo da Callix, Fabrício Buzzatti, vê no primeiro momento uma tendência maior de utilização por parte das pequenas e médias empresas ou operações menores de grandes corporações. “Isso porque, com a nuvem, deixa de existir uma barreira financeira para ter uma operação de qualidade”, afirma. Em um segundo momento, ele prevê a migração de grandes operações. “Isso aconteceu nos contact centers americanos, onde a tecnologia em nuvem já existe há muitos anos. Hoje, os players americanos chegam a suportar operações que ultrapassam 1000 PAs”, completa o executivo, citando também pesquisa da Frost&Sullivan que aponta que o tamanho do mercado de contact center em nuvem dos Estados Unidos já chega a 10% do total de PA´s, ou seja, mais de 800 mil posições.
Da mesma opinião, o diretor executivo de eficiências (Infraestrutura e Tecnologias) da Atento, Tony Cruz, comenta que as aplicações de TI no contact center são consideradas de missão crítica, e por isso, num primeiro momento a migração irá ocorrer nas empresas de porte pequeno e médio. “Isso porque estas não possuem um capital maior para investir na operação de TI onpremise e preferem este modelo para manter custos mais baixos com os sistemas de atendimento baseado na nuvem”, completa. No momento, a operação da Atento não está baseada em cloudcomputing externo, mas o executivo acredita que essa tecnologia cada vez mais irá participar das soluções de TI, no formato de nuvem privada.
INCERTEZAS
A definição de como operar a infraestrutura de contactcenter na nuvem também levanta dúvidas. “Não temos um problema de tecnologia, há várias empresas no mercado com soluções e diferentes formatos para vender licenciamento. No entanto, o grande ponto são as empresas que vão operar um callcenter na nuvem que ainda estão buscando um modelo de negócio que traga um retorno de investimento adequado pela demanda de mercado”, comenta Paulo Bonucci, presidente da Verint no Brasil. Ele vê um movimento nos últimos dezoito meses de várias empresas, principalmente grandes operadoras de telecom, criando projetos para fazer call center na nuvem ou mesmo comunicação unificada na nuvem, inclusive consultando vários players de tecnologia. “É um modelo que ainda está sendo desenvolvido. O que tenho visto algumas empresas fazendo são projetos onde grandes fabricantes de tecnologia vendem soluções para colocar no data center de uma empresa e operam a tecnologia na nuvem privada”, esclarece.
Porém, independente dos desafios, devemos ver nos próximos anos cada vez mais empresas de contactcenter indo para nuvem. “Aos poucos as vantagens da operação de contactcenter em nuvem vêm se tornando algo mais perceptível nas empresas. Isso acontece porque essas vantagens deixam de ser algo existente no campo teórico para se tornarem casos reais de sucesso. Assim as vantagens começam a se equilibrar em peso com as pretensas desvantagens. E é justamente a partir desse ponto de equilíbrio em que a adoção do modelo em nuvem deve passar a ser algo mais massivo”, conclui Taher.

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Vamos para a nuvem!


Mais consolidada em algumas áreas e em outros países, a tecnologia em nuvem vem ganhando espaço também no mercado de brasileiro call center. O modelo já tem ampla aceitação em mercados como o norte americano e o europeu, locais onde as companhias perceberam o quanto é vantajoso pagar por suas soluções como serviço, segundo Pedro Silveira, gerente de marketing para América Latina. “Trata-se de um modelo de eficiência comprovada em outros mercados e que aumenta ainda mais a competitividade do nosso universo. Podemos, inclusive, extrair mais vantagens do cenário brasileiro ao mover nossas operações para a nuvem e, a partir daí, adotar melhores tecnologias e conhecer melhores práticas – conquistas que já são uma realidade em mercados com perfil ´early adopter´”, conta.
 
O executivo destaca que a oferta de tecnologia de implementação das centrais de atendimento na nuvem é um recurso que irá quebrar paradigmas. Isso porque elimina a necessidade de altos investimentos em hardware e licenciamento de software, algo que, por si só, amplia o ciclo de vida da tecnologia usada no país devido aos altos custos. Como consequência, permite que companhias de qualquer porte mudem o modo como se relacionam com o cliente. “É verdade que a oferta de um bom atendimento ao cliente passa pela implementação de tecnologia para automatizar os processos numa central, e que isso demanda investimentos. Mas o cenário é positivo com a possibilidade de implementação dessa tecnologia na nuvem, que barateia os custos”, esclarece. Ele reforça ainda que a adoção da tecnologia é um passo importante e consecutivo à percepção por parte das empresas de que a qualidade de atendimento é chave para qualquer tipo de negócio.
 
MOBILE
Além da nuvem, a integração de smartphones e tablets – e de seus recursos multimídia – ao contact center também é uma tendência que vem para atender à cada vez maior adoção desse canal de comunicação pelo cliente. “Até 2016, mais de 70% das comunicações entre empresa e cliente serão realizadas através de dispositivos móveis”, alerta.

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